sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Paróquia Nossa Senhora Aparecida De Alfenas - Mg Com As Servas do Altar e As Coroinhas ( Tempo De Quaresma )



Primeira leitura (Jeremias 1,4-5.17-19)

Leitura do Livro do Profeta Jeremias: 

Nos dias de Josias, rei de Judá, 4foi-me dirigida a palavra do Senhor, dizendo: “5Antes de formar-te no ventre materno, eu te conheci; antes de saíres do seio de tua mãe, eu te consagrei e te fiz profeta das nações.
17Vamos, põe a roupa e o cinto, levanta-te e comunica-lhes tudo que eu te mandar dizer: não tenhas medo, senão, eu te farei tremer na presença deles.
18Com efeito, eu te transformarei hoje numa cidade fortificada, numa coluna de ferro, num muro de bronze contra todo o mundo, frente aos reis de Judá e seus príncipes, aos sacerdotes e ao povo da terra; 19eles farão guerra contra ti, mas não prevalecerão, porque eu estou contigo para defender-te”, diz o Senhor.

- Palavra do Senhor.
- Graças a Deus.



Salmo (Salmos 70)

— Minha boca anunciará todos os dias/ vossas graças incontáveis, ó Senhor!
— Minha boca anunciará todos os dias/ vossas graças incontáveis, ó Senhor!


— Eu procuro meu refúgio em vós, Senhor:/ que eu não seja envergonhado para sempre!/ Porque sois justo, defendei-me e libertai-me!/ Escutai a minha voz, vinde salvar-me!
— Sede uma rocha protetora para mim,/ um abrigo bem seguro que me salve!/ Porque sois a minha força e meu amparo,/ o meu refúgio, proteção e segurança!/ Libertai-me, ó meu Deus, das mãos do ímpio.
— Porque sois, ó Senhor Deus, minha esperança,/ em vós confio desde a minha juventude!/ Sois meu apoio desde antes que eu nascesse,/ desde o seio maternal, o meu amparo.
— Minha boca anunciará todos os dias/ vossa justiça e vossas graças incontáveis./ Vós me ensinastes desde a minha juventude,/ e até hoje canto as vossas maravilhas.


Segunda leitura (1º Coríntios 12,31—13,13)

Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios: 


Irmãos: 31Aspirai aos dons mais elevados. Eu vou ainda mostrar-vos um caminho incomparavelmente superior.

13,1Se eu falasse todas as línguas, as dos homens e as dos anjos, mas não tivesse caridade, eu seria como um bronze que soa ou um címbalo que retine.
2Se eu tivesse o dom da profecia, se conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, se tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, mas se não tivesse caridade, eu não seria nada.
3Se eu gastasse todos os meus bens para sustento dos pobres, se entregasse o meu corpo às chamas, mas não tivesse caridade, isso de nada me serviria.
4A caridade é paciente, é benigna; não é invejosa, não é vaidosa, não se ensoberbece;5não faz nada de inconveniente, não é interesseira, não se encoleriza, não guarda rancor;6não se alegra com a iniquidade, mas se regozija com a verdade. 7Suporta tudo, crê tudo, espera tudo, desculpa tudo.
8A caridade não acabará nunca. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência desaparecerá.
9Com efeito, o nosso conhecimento é limitado e a nossa profecia é imperfeita. 10Mas, quando vier o que é perfeito, desaparecerá o que é imperfeito.
11Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Quando me tornei adulto, rejeitei o que era próprio de criança.
12Agora nós vemos num espelho, confusamente, mas, então, veremos face a face. Agora conheço apenas de modo imperfeito, mas, então, conhecerei como sou conhecido.
13Atualmente, permanecem estas três coisas: fé, esperança, caridade. Mas a maior delas é a caridade.

- Palavra do Senhor.
- Graças a Deus.

Evangelho (Lucas 4,21-30)


— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor!





Naquele tempo, estando Jesus na sinagoga, começou a dizer: 21“Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. 
22Todos davam testemunho a seu respeito, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca. E diziam: “Não é este o filho de José?”
23Jesus, porém, disse: “Sem dúvida, vós me repetireis o provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo. Faze também aqui, em tua terra, tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum”. 
24E acrescentou: “Em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. 
25De fato, eu vos digo: no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e seis meses e houve grande fome em toda a região, havia muitas viúvas em Israel. 26No entanto, a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a uma viúva que vivia em Sarepta, na Sidônia. 
27E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel. Contudo, nenhum deles foi curado, mas sim Naamã, o sírio”. 
28Quando ouviram estas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos.29Levantaram-se e o expulsaram da cidade. Levaram-no até ao alto do monte sobre o qual a cidade estava construída, com a intenção de lançá-lo no precipício. 30Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho.


Comentário do Evangelho

Passando pelo meio deles...


O versículo 21b ("Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir") e os versículos 22-23, onde encontramos uma reação positiva dos ouvintes presentes na sinagoga de Nazaré ao comentário de Jesus sobre o trecho do livro do Profeta Isaías, poderiam nos levar a entender que os pobres, os cativos, os cegos, os oprimidos fossem os destinatários da mensagem, aos quais Jesus é enviado. No entanto, nos versículos 22-27, Jesus exclui os Nazarenos de sua mensagem salvífica. E a evocação dos fatos tirados do ciclo de Elias e Eliseu estabelece um paralelo entre Israel e Nazaré. Nazaré passa a ser o protótipo da rejeição de Jesus por Israel. Jesus é um profeta não somente porque ele sabe-se enviado, mas porque é rejeitado. Eis o critério que permite verificar a autenticidade de sua vocação: "... nenhum profeta é aceito na sua própria terra" (v. 24). O profeta é consciente das dificuldades na realização da missão, por isso é chamado a viver na confiança: "Farão guerra contra ti, mas não te vencerão, porque estou contigo para te defender, oráculo do Senhor" (Jr 1,19). Não há nada nem ninguém que possa impedir o Senhor de continuar o seu caminho de realização da vontade do Pai: ". passando pelo meio deles, continuou o seu caminho" (v. 30). 

Carlos Alberto Contieri, sj


Jesus apresentado no templo


A cena da apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém apresenta uma catequese bem amadurecida e bem refletida, que procura dizer quem é Jesus e qual a sua missão no mundo. Antes de mais, o autor sublinha repetidamente a fidelidade da família de Jesus à Lei do Senhor, como se quisesse deixar claro que Jesus, desde o início da sua caminhada entre os homens, viveu na escrupulosa fidelidade aos mandamentos e aos projetos do Pai. Desde o início da sua existência terrena, Ele entregou a sua vida nas mãos do Pai, numa adesão absoluta ao plano do Pai. A missão de Jesus no mundo passa por aí – pelo cumprimento rigoroso da vontade e do projeto do Pai.

Portanto, Jesus foi apresentado no Templo. Aí, duas personagens O acolhem: Simeão e Ana. Eles representam esse Israel fiel que espera ansiosamente a sua libertação e a restauração do reinado de Deus sobre o seu Povo. De Simeão diz-se que era um homem “justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel”.
As palavras e os gestos de Simeão são particularmente sugestivos… Simeão toma Jesus nos braços e apresenta-O ao mundo, definindo-O como “a salvação” que Deus quer oferecer “a todos os povos”, “luz para se revelar às nações e glória de Israel”. Jesus é, assim, reconhecido pelo Israel fiel como esse Messias libertador e salvador, a quem Deus enviou – não só ao seu povo, mas a todos os povos da terra. Aqui desponta um tema muito querido a Lucas: o da universalidade da salvação de Deus… Deus não tem já um Povo eleito, mas a sua salvação é para todos os povos, independentemente da sua raça, da sua cultura, das suas fronteiras, dos seus esquemas religiosos. As palavras que Simeão dirige a Maria: “este menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; e uma espada trespassará a tua alma”. Estas palavras aludem, provavelmente, à divisão que a proposta de Jesus provocará em Israel e ao resultado dessa divisão – o drama da cruz.

Ana é também uma figura do Israel pobre e sofredor (“viúva”), que se manteve fiel a Deus, não se voltou a casar, após a morte do marido, que espera a salvação de Deus. Depois de reconhecer em Jesus a salvação anunciada por Deus, ela “falava do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém”. A palavra utilizada por Lucas para falar de libertação é a palavra resgate, utilizada no Êxodo para falar da libertação da escravidão do Egito (cf. Ex 13,13-15; 34,20; Nm 18,15-16). Jesus é, assim, apresentado por Lucas como o Messias libertador, que vai conduzir o seu Povo do domínio da escravidão para o domínio da liberdade. A apresentação no Templo de um primogênito celebrava precisamente a libertação do Egito e a passagem da escravidão para a liberdade.
O texto termina com uma referência ao resto da infância de Jesus e ao crescimento do menino em “sabedoria” e “graça”. Trata-se de atributos que lhe vêm do Pai e que atestam, portanto, a sua divindade. Em conclusão: Jesus é o Deus que vem ao encontro dos homens com uma missão que lhe foi confiada pelo Pai. O objetivo de Jesus é cumprir integralmente o projeto do Pai… E esse projeto passa por levar os homens da escravidão para a liberdade e em apresentar a proposta de salvação de Deus a todos os povos da terra, mesmo àqueles que não pertencem tradicionalmente à comunidade do Povo de Deus.

Poderíamos dizer que se celebra hoje em toda a Igreja um singular “ofertório”, no qual os homens e as mulheres consagradas ao ministério de Jesus renovam espiritualmente o dom de si. Agindo desta forma, ajudam as comunidades eclesiais a crescer na dimensão oblativa que as constitui intimamente, as edifica e as estimula a testemunhar Jesus pelos caminhos do mundo.

A “apresentação do Senhor” no Templo de Jerusalém revela que, desde o início da sua caminhada entre os homens, Jesus escolheu um caminho de total fidelidade aos mandamentos e aos projetos do Pai. Ao oferecer-Se a Deus em oblação, ao ser “consagrado” ao Pai, Jesus manifesta a sua disponibilidade para cumprir fiel e incondicionalmente o plano salvador do Pai até às últimas conseqüências, até ao dom total da própria vida em favor dos homens.
Jesus é-nos apresentado, neste texto, como “a salvação colocada ao alcance de todos os povos”, a “luz para se revelar às nações e a glória de Israel”, o messias com uma proposta de libertação para todos os homens.

Que eco é que esta “apresentação” de Jesus tem no coração dos consagrados? Jesus é, de fato, a luz que ilumina as suas vidas e que os conduz pelos caminhos do mundo? Ele é o caminho certo e inquestionável para a salvação, para a vida verdadeira e plena? É n’Ele que colocam a sua ânsia de libertação e de vida nova? Este Jesus aqui apresentado tem real impacto na sua vida, nas suas opções, nos passos que dão no seu caminho de consagração, ou é apenas uma figura decorativa de certo cristianismo de fachada?

Simeão e Ana são, na cena evangélica que nos é proposta, figuras do Israel fiel, que foi preparado desde sempre para reconhecer e para acolher o messias de Deus. Na verdade, quando Jesus aparece, eles estão suficientemente despertos para reconhecer naquele bebé o messias libertador que todos esperavam e apresentam-n’O formalmente ao mundo.

Hoje, como discípulos que acolheram Jesus como a sua luz e que aceitaram segui-l’O temos a responsabilidade de O apresentar ao mundo e de O tornar uma proposta questionadora, libertadora, iluminadora, salvadora, para os homens nossos irmãos. É isso que acontece? Através do nosso anúncio – feito com palavras, com gestos, com atitudes, com a fidelidade aos compromissos exige o nosso batismo. A Vida cristã é chamada a refletir de maneira particular a luz de Cristo. É preciso que sejamos luz e conforto para cada pessoa, velas acesas que ardem com o próprio amor de Cristo, luz que ilumina as sombras do mundo e que profeticamente anuncia a aurora de uma nova realidade.


Apresentação do Senhor


Embora esta festa de 2 de fevereiro caia fora do tempo de natal, é parte integrante do relato de natal. É uma faísca do natal, é uma epifania do quadragésimo dia. Natal, epifania, apresentação do Senhor são três painéis de um tríptico litúrgico.

É uma festa antiqüíssima de origem oriental. A Igreja de Jerusalém já a celebrava no século IV. Era celebrada aos quarenta dias da festa da epifania, em 14 de fevereiro. A peregrina Eteria, que conta isto em seu famoso diário, acrescenta o interessante comentário de que se "celebrava com a maior alegria, como se fosse páscoa"'. De Jerusalém, a festa se propagou para outas igrejas do Oriente e do Ocidente. No século VII, se não antes, havia sido introduzida em Roma. A procissão com velas se associou a esta festa. A Igreja romana celebrava a festa quarenta dias depois do natal.
Entre as igrejas orientais esta festa era conhecida como "A festa do Encontro" (em grego, Hypapante), nome muito significativo e expressivo, que destaca um aspecto fundamental da festa: o encontro do Ungido de Deus com seu povo. São Lucas narra o fato no capítulo 2 de seu evangelho. Obedecendo à lei mosaica, os pais de Jesus o levaram ao templo quarenta dias depois de seu nascimento para apresentá-lo ao Senhor e fazer uma oferenda por ele 1.

Esta festa começou a ser conhecida no Ocidente, a partir do século X, com o nome de Purificação da bem-aventurada virgem Maria. Foi incluída entre as festas de Nossa Senhora. Mas isto não totalmente correto, já que a Igreja celebra neste dia, essencialmente, um mistério de nosso Senhor. No calendário romano, revisado em 1969, o nome foi mudado para "A Apresentação do Senhor". Esta é uma indicação mais verdadeira da natureza e do objeto da festa. Entretanto, isso não quer dizer que subestimemos o papel importantíssimo de Maria nos acontecimentos que celebramos. Os mistérios de Cristo e de sua mãe estão estreitamente ligados, de maneira que nos encontramos aqui com uma espécie de celebração dupla, uma festa de Cristo e de Maria.

A bênção das velas antes da missa e a procissão com as velas acesas são características chocantes da celebração atual. O missal romano manteve estes costumes, oferecendo duas formas alternativas de procissão. é adequado que, neste dia, ao escutar o cântico de Simeão no evangelho (Lc 2,22-40), aclamemos a Cristo como "luz para iluminar às nações e para dar glória a teu povo, Israel".


Significado da festa


A festa da Apresentação celebra uma chegada e um encontro; a chegada do Salvador esperado, núcleo da vida religiosa do povo, e as boas-vindas concedida a ele por dois representantes dignos da raça eleita, Simeão e Ana. Por sua proveta idade, estes dois personagens simbolizam os séculos de espera e de fervoroso anseio dos homens e mulheres devotos da antiga aliança. Na realidade, representam a esperança e o anseio da raça humana.

Ao reviver este mistério na fé, a Igreja dá novamente as boas-vindas a Cristo. Esse é o verdadeiro sentido da festa. É a "Festa do Encontro", o encontro de Cristo e sua Igreja. Isto vale para qualquer celebração litúrgica, mas especialmente para esta festa. A liturgia nos convida a dar as boas-vindas a Cristo e a sua mãe, como o fez seu próprio povo de então: "Ó Sião, enfeita teu quarto nupcial e dá boas-vindas a Cristo Rei; abraça a Maria, porque ela é a verdadeira porta do céu e traz o glorioso Rei da luz nova"2.

Ao dramatizar desta maneira a lembrança deste encontro de Cristo com Simeão, a Igreja nos pede que professemos publicamente nossa fé na Luz do mundo, luz de revelação para todo povo e pessoa.

Na belíssima introdução à benção das velas e a procissão, o celebrante lembra como Simeão e Ana, guiados pelo Espírito, vieram ao templo e reconheceram a Cristo como seu Senhor. E conclui com o seguinte convite: "Unidos pelo Espírito, vamos agora à casa de Deus dar as boas-vindas a Cristo, o Senhor. O reconheceremos na fração do pão até que venha novamente em sua glória".

Refere-se claramente ao encontro sacramental, ao que a procissão serve de prelúdio. Respondemos ao convite: "Vamos em paz ao encontro do Senhor"; e sabemos que este encontro será na eucaristia, na palavra e no sacramento Entramos em contato com Cristo através da liturgia; por ela temos também acesso a sua graça. Santo Ambrósio escreve deste encontro sacramental em uma página insuperável: "Te revelaste face a face, ó Cristo. Em teus sacramentos te encontro".

Função de Maria. A festa da apresentação é, como dissemos, uma festa de Cristo antes do que qualquer outra coisa. É um mistério de salvação. O nome "apresentação" tem um conteúdo muito rico. Fala de oferecimento, sacrifício. Recorda a auto-oblação inicial de Cristo, palavra encarnada, quando entrou no mundo: “Eis-me aqui para fazer tua vontade". Aponta à vida de sacrifício e à perfeição final dessa auto-oblação na colina do Calvário.

Dito isto; temos que passar a considerar o papel de Maria neste acontecimentos salvíficos. Depois de tudo, ela é a que apresenta a Jesus no templo; ou, mais corretamente, ela e seu esposo José, pois ambos pais são mencionados. E perguntamos: Tratava-se exclusivamente de cumprir o ritual prescrito, uma formalidade praticada por muitos outros pais? Ou guardava uma significação muito mais profunda que tudo isto? Os padres da Igreja e a tradição cristã respondem que sim.

Para Maria, a apresentação e oferenda de seu filho no templo não era um simples gesto ritual. Indubitavelmente, ela não era consciente de todas as implicações nem da significação profética deste ato. Ela não contemplar todas as conseqüências de seu fiat na anunciação. Mas foi um ato de oferecimento verdadeiro e consciente. Significava que ela oferecia seu filho para a obra da redenção com a que ele estava comprometido desde o princípio. Ela renunciava a seus direitos maternais e a toda pretensão sobre ele; e o oferecia à vontade do Pai. São Bernardo expressou muito bem isto: "Oferece teu filho, santa Virgem, e apresenta ao Senhor o fruto bendito de teu ventre. Oferece, para reconciliação de todos nós, a santa Vítima que é agradável a Deus'3.

Há um novo simbolismo no fato de que Maria coloca a seu filho nos braços de Simeão. Ao agir desta maneira, ela não o oferece exclusivamente ao Pai, mas também ao mundo, representado por aquele ancião. Dessa maneira, ela representa seu papel de mãe da humanidade, e nos lembra que o dom da vida em através de Maria.

Existe uma conexão entre este oferecimento e o que acontecerá no Gólgota quando serão executadas todas as implicações do ato inicial de obediência de Maria: "Faça-se em mim segundo tua palavra". Por essa ração, o evangelho desta festa carregada de alegria não nos exime da nota profética: "Eis que este menino está destinado para a queda e ressurgimento de muitos em Israel; será sinal de contradição, e uma espada atravessará tua alma, para que sejam descobertos os pensamentos de muitos corações" (Lc 2,34-35).

O encontro futuro. A festa de hoje não se limita a nos permitir reviver um acontecimento passado, mas nos projeta para o futuro. Prefigura nosso encontro final com Cristo em sua segunda vinda. São Sofrônio, patriarca de Jerusalém desde o ano de 634 até sua morte, em 638, expressou isto com eloqüência: "Por isso vamos em procissão com velas em nossas mãos e nos apressamos carregando luzes; queremos demonstrar que a luz brilhou para nós e significar a glória que deve chegar através dele. Por isso vamos juntos ao encontro com Deus".

A procissão representa a peregrinação da própria vida. O povo peregrino de Deus caminha penosamente através deste mundo do tempo, guiado pela luz de Cristo e sustentado pela esperanças de encontrar finalmente ao Senhor da glória em seu reino eterno. O sacerdote diz na benção das velas: "Que quem as levas para enaltecer tua glória caminhemos no caminho de bondade e vamos à luz que brilha para sempre".

A vela que levamos em nossas mão lembra a vela de nosso batismo. E o sacerdote diz: " guardem a chama da fé viva em seus corações. Que quando o Senhor vier saiam a seu encontro com todos os santos no reino celestial". Este será o encontro final, a apresentação , quando a luz da fé se converter na luz da glória. Então será a consumação de nosso mais profundo desejo, a graça que pedimos na pós-comunhão da missa:

Por estes sacramentos que recebemos, enche-nos com tua graça, Senhor, tu que encheste plenamente a esperança de Simeão; e assim como não o deixaste morrer sem ter segurando Cristo nos braços, concede a nós, que caminhamos ao encontro do Senhor, merecer o prêmio da vida eterna.


A cooperação da mulher no mistério da Redenção 


1. As palavras do velho Simeão, anunciando à Maria sua participação na missão salvífica do Messias, manifestam o papel da mulher no mistério da redenção.

Com efeito, Maria não só uma pessoa individual; também é a "filha de Sião", a mulher nova que, ao lado do Redentor, compartilha sua paixão e gera no Espírito os filhos de Deus. Essa realidade se expressa mediante a imagem popular das "sete espadas" que atravessam o coração de Maria. Essa representação destaca o profundo vínculo que existe entre a mãe, que se identifica com a filha de Sião e com a Igreja, e o destino de dor do Verbo encarnado.

Ao entregar a seu Filho, recebido pouco antes de Deus, para consagrá-lo a sua missão de salvação, Maria se entrega também a esta missão. Trata-se de um gesto de participação interior, que não é só fruto do natural afeto materno, mas que sobretudo se expressa no consentimento da mulher nova à obra redentora de Cristo.

2. Em sua intervenção, Simeão indica a finalidade do sacrifício de Jesus e do sofrimento de Maria: se darão "a fim de que se revelem todas a intenções de muitos corações" (Lc 2, 35).

Jesus, "sinal de contradição" (Lc 2, 34), que implica a sua mãe em seu sofrimento, levará os homen a tomar posição a respeito dele, convidando-os a uma decisão fundamental. Com efeito, "está posto para queda e elevação de muitso em Israel" (Lc 2, 34).

Assim pois, Maria está unida a seu Filho divino na "contradição", com vistas à obra da salvação.

Certamente, existe o perigo de queda para quem nao acolhe a Cristo, mas um efeio maravilhoso da redenção é a elevação de muitos. Este mero anúncio acende grande esperança nos corações aos quais já testemunha o fruto do sacrifício.

Ao colocar sob o olhar da Virgem estas perspectivas da salvação antes da oferta ritual, Simeão parece sugerir a Maria que realize esse gesto para contribuir ao resgate da humanidade. De fato, não fala com José nem de José: suas palavras se dirigem a Maria, a quem associa ao destino de seu Filho.

3. A prioridade cronológica do gesto de Maria no ofusca o primado de Jesus. O concílio Vaticano II, ao definir o papel de Maria na economia da salvação, lembra que ela "entregou totalmente a si mesma (...) a pessoa e a obra de seu Filho. Com ele e em sua dependência, colocou-se (...) a serviço do mistério da redenção" (Lumen gentium, 56).
Na apresentação de Jesus no templo, Maria coloca-se a serviço do mistério da Redenção com Cristo e em sua dependência: com efeito, Jesus, o protagonista da salvação, é quem deve ser resgatado mediante a oferenda ritual. Maria está unida ao sacrifício de seu Filho pela espada que lhe atravessará a alma.

O primado de Cristo não anula, mas sustenta e exige o papel próprio e insubstituível da mulher. Implicando a sua mãe em seu sacrifício, Cristo quer revelar as profundas raízes humanas dele mesmo e mostrar uma atencipação do oferecimento sacerdotal da cruz.

A intenção divina de solicitar a cooperação específica da mulher na obra redentora se manifesta no fato de que a profecia de Simeão se dirige somente a Maria, apesar de que José também participa do ritual da oferenda.

4. A conclusão do episódio da apresentação de Jesus no templo parece confirmar o significado e o valor da presença feminina na economia da salvação. O encontro com uma mulher, Ana, encerra esses momentos singulares, nos quais o Antigo Testamento quase se entrega ao Novo.

Assim como Simeão, esta mulher não é uma pessoa socialmente importante no povo eleito, mas sua vida parece possuir um grande valor aos olhos de Deus. San Lucas a chama "profetisa", provavelmente porque era consultada por muitos por causa da seu dom de discernimento e pela vida sana que levava sob inspiração do Espírito do Senhor.

Ana era de idade avançada, pois tinha oitenta e quaro anos e era viúva há muito tempo. Consagrada totalmente a Deuss, "não se afastava do templo, servindo a Deus noite e dia em jejuns e orações" (Lc 2, 37). Por isso, representa a todos os que, tendo vivido intensamente à espera do Messias, são capazes de acolher o cumprimento da Promessa com grande júbilo. O evangelista refere que, "como se apresentasse naquela mesma hora, louvava a Deus" (Lc 2, 38).

Vivendo de forma habitual no templo, pôde, talvez com maior facilidade que Simeão, encontrar a Jesus no ocaso de uma existência dedicada ao Senhor e enriquecida pela escuta da Palavra da oração.

Na alvorada da Redenção, podemos ver na profetisa Ana todas as mulheres que, com a santidade de sua vida e com sua atitude de oração, estão disposta a acolher a presença de Cristo e louvar diariamente a Deus pelas maravilhas que realiza sua eterna misericórdia.

5. Simeão e Ana, escolhidos para o encontro com o Menino, vivem intensamente esse dom divino, compartilham com Maria e José a alegria da presença de Jesus e a difundem seu ambiente. De forma especial, Ana demonstra um zelo magnífico ao falar de Jesus, testemunhando assim sua fé simples e generosa, uma fé que prepara outros a acolher o Messias em sua vida.

A expressão de Lucas: "Falado do menino a atodos os que esperavam a redenção de Jerusalém" (Lc 2, 38), parece acreditá-la como símbolo das mulheres que, dedicando-se à difusão do Evangelho, suscitam e alimentam esperanças de salvação.

Catequese de. João Paulo II


Maria, Mãe animada pelo Espírito Santo


1. Como coroamento da reflexão sobre o Espírito Santo, neste ano a Ele dedicado no caminho rumo ao grande Jubileu, elevamos o olhar para Maria. O consentimento por ela expresso na Anunciação, há dois mil anos, representa o ponto de partida da nova história da humanidade. Com efeito, o Filho de Deus encarnou e começou a habitar no meio de nós, quando Maria declarou ao anjo: «Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38).

A cooperação de Maria com o Espírito Santo, manifestada na Anunciação e na Visitação, exprime-se numa atitude de constante docilidade às inspirações do Paráclito. Consciente do mistério do seu Filho divino, Maria deixava-se guiar pelo Espírito para se comportar de modo adequado à sua missão materna. Como verdadeira mulher de oração, a Virgem pedia ao Espírito Santo que completasse a obra iniciada na concepção, para que o Menino crescesse «em sabedoria, idade e graça diante de Deus e dos homens» (ibid., 2, 52), Sob este aspecto, Maria apresenta-se como um modelo para os pais, mostrando a necessidade de recorrer ao Espírito Santo para encontrar a via justa na difícil tarefa educativa.

2. O episódio da apresentação de Jesus no templo coincide com uma intervenção importante do Espírito Santo. Maria e José tinham ido ao templo para «apresentar» (cf. ibid., 2, 22), isto é, para oferecer Jesus, segundo a lei mosaica que prescrevia o resgate dos primogénitos e a purificação da mãe. Vivendo profundamente o sentido deste rito, como expressão de sincera oferta, eles foram iluminados pelas palavras de Simeão, pronunciadas sob o impulso especial do Espírito.

A narração de Lucas sublinha de maneira expressa a influência do Espírito Santo na vida deste ancião. Ele recebera do Espírito a garantia de não morrer sem ter visto o Messias. E precisamente, «impelido pelo Espírito, veio ao templo» (ibid., 2, 27), no momento em que Maria e José levavam para lá o Menino. É, pois, o Espírito Santo que suscita o encontro. É Ele que inspira ao velho Simeão um cântico que celebra o futuro do Menino, que veio como «luz para iluminar as nações» e «glória para o povo de Israel» (ibid., 2, 32). Maria e José maravilham-se destas palavras que ampliam a missão de Jesus a todos os povos.
É ainda o Espírito que faz com que Simeão pronuncie uma profecia dolorosa: Jesus será «sinal de contradição» e «uma espada trespassará a alma» de Maria (ibid., 2, 34.35). Através destas palavras, o Espírito Santo prepara Maria para a grande provação que a espera, e confere ao rito da apresentação do Menino o valor de um sacrifício oferecido por amor. Quando Maria recebeu o seu Filho dos braços de Simeão, compreendeu que O recebia para O oferecer. A sua maternidade envolvê-la-ia no destino de Jesus e toda a oposição a Ele haveria de se repercutir no seu coração.

3. A presença de Maria junto da Cruz é o sinal de que a Mãe seguiu até ao fim o itinerário doloroso, traçado pelo Espírito Santo pela boca de Simeão.

No Calvário, das palavras que Jesus dirige à Mãe e ao discípulo predilecto, emerge outra característica da acção do Espírito Santo: Ele assegura fecundidade ao sacrifício. As palavras de Jesus manifestam precisamente um aspecto «mariano» desta fecundidade: «Mulher, eis aí o teu filho» (Jo 19, 26). Nestas palavras, o Espírito Santo não aparece expressamente. Mas a partir do momento que o evento da Cruz, como a inteira vida de Cristo, se desenrola no Espírito Santo (cf. Dominum et vivificantem, 40-41), precisamente no Espírito Santo o Salvador pede à Mãe que consinta ao sacrifício do Filho, para se tornar a mãe de uma multidão de filhos. A esta suprema oferta da Mãe de Jesus, Ele assegura um fruto imenso: uma nova maternidade destinada a estender-se a todos os homens.

Da Cruz o Salvador queria derramar sobre a humanidade rios de água viva (cf. ibid., 7, 38), isto é, a abundância do Espírito Santo. Mas desejava que esta efusão de graça estivesse ligada ao rosto de uma mãe, a sua Mãe. Maria aparece já como a nova Eva, mãe dos vivos, ou a Filha de Sião, mãe dos povos. O dom da Mãe universal estava incluído na missão redentora do Messias: «Depois, Jesus, sabendo que tudo estava consumado...», escreve o Evangelista após a dupla declaração: «Mulher, eis aí o teu filho» e «Eis aí a tua mãe» (ibid., 19, 26-28).

Desta cena pode-se intuir a harmonia do plano divino em relação ao papel de Maria na acção salvífica do Espírito Santo. No mistério da Encarnação a sua cooperação com o Espírito tinha desempenhado um papel essencial; também no mistério do nascimento e da formação dos filhos de Deus o concurso materno de Maria acompanha a actividade do Espírito Santo.

4. À luz da declaração de Cristo no Calvário, a presença de Maria na comunidade à espera do Pentecostes assume todo o seu valor. São Lucas, que chamara a atenção para o papel de Maria na origem de Jesus, quis ressaltar a sua presença significativa na origem da Igreja. A comunidade é composta não só de Apóstolos e Discípulos, mas também de mulheres, entre as quais Lucas nomeia unicamente «Maria, a mãe de Jesus» (Act 1, 14).

A Bíblia não nos oferece outra informação sobre Maria após o drama do Calvário. Mas é muito importante saber que Ela participava na vida da primeira comunidade e na sua oração assídua e unânime. Sem dúvida, ela esteve presente na efusão do Espírito, no dia do Pentecostes. O Espírito que já habitava em Maria, tendo realizado nela maravilhas de graça, agora desce de novo ao seu coração, comunicando dons e carismas necessários para o exercício da sua maternidade espiritual.

5. Maria continua a exercer na Igreja a maternidade que lhe foi confiada por Cristo. Nesta missão materna, a humilde escrava do Senhor não se põe em concorrência com o papel do Espírito Santo; ao contrário, ela é chamada pelo mesmo Espírito a cooperar com Ele de modo materno. Ele desperta continuamente na memória da Igreja as palavras de Jesus ao discípulo predilecto: «Eis aí a tua mãe», e convida os crentes a amarem Maria como Cristo a amou. Todo o aprofundamento do vínculo com Maria permite ao Espírito uma acção mais fecunda para a vida da Igreja.

JOÃO PAULO II

Quaresma


A Quaresma faz memória de Cristo, em seus quarenta dias pelo deserto, revivendo, na própria experiência, os quarenta anos do povo de Deus também no deserto. Com Ele, subimos a Jerusalém, percorremos o caminho da cruz, passamos pela morte até chegarmos à nova vida, dom do Pai, pelo Espírito.

A Quaresma é o “tempo favorável” para a redescoberta e o aprofundamento do autêntico discípulo de Cristo. É espaço para um novo nascimento. Somos chamados para assumir a penitência como método de conversão e unificação interior, como caminho pessoal e comunitário de libertação pascal. É tempo forte de escuta da Palavra, pois, através dela, vamos conhecer os desejos de Deus e praticar a sua vontade. A Quaresma é o tempo propício de renovação espiritual, uma espécie de retiro pascal estruturado no trinômio: oração, jejum e esmola (solidariedade, misericórdia).

Segundo Pedro Crisólogo, séc. IV, “o que a oração pede, o jejum alcança e a misericórdia recebe”.
A Quaresma é o tempo propício de nos colocarmos em espírito de penitência. Por isso, com o jejum, a oração e a esmola nós nos configuramos mais intimamente aos mistérios da paixão, morte e ressurreição de Cristo. Sofrendo um pouco de privação de alimentos e de bebidas neste tempo, saibamos unir-nos de algum modo aos homens para os quais é habitual a privação de alimento, de meios econômicos. O jejum se torna um gesto simbólico, denúncia profética da injustiça que nasce do egoísmo, solidariedade com os mais pobres. Assim, a preparação para a Páscoa se torna “Campanha da Fraternidade”, e a ceia do Senhor um gesto de pobreza, contrição, esperança, anúncio. Quem participa seriamente da paixão do Senhor, ainda hoje viva nos pobres da terra, sabe que a volta ao Pai – tanto a sua como o da comunidade – já começou, e que na mortificação da carne pode florescer o Espírito da ressurreição e da vida.

O jejum e a quaresma é um tempo em que damos maior liberdade a Deus para agir em nós, refreando os desejos instintivos – não só o apetite alimentício – não porem num espírito mesquinho e dualista, mas generoso e repleto de esperança, tratando de acompanhar aquele que se libertou completamente para, em obediência a Deus Pai, se doar por nó todos.
Impondo certas restrições aos nossos impulsos, abrimos maior espaço para Deus e seus filhos, que procuram um lugarzinho em nós! Mortificação, então, não significa gosto pela morte, mas morte ao homem natural, para deixar viver com mais vigor em nós o filho de Deus e irmão dos homens que somos.

Trilhemos esse caminho como discípulos, missionários e fiéis, seguindo os passos de Jesus. Este vence as tentações do demônio, revela a nós, mediante a transfiguração, que pela paixão e cruz chegará à glória da ressurreição e nos ensina a repensar o sim pessoal da fé, num encontro profundo com Ele, a exemplo da mulher samaritana, que recebe d'Ele a salvação, do cego de nascença, que começa a ver, do amigo Lázaro, que é ressuscitado.

Que a nossa Quaresma seja ecológica, também, nos preocupando com o meio ambiente e na sua preservação!

Padre Wagner Augusto Portugal V
Vigário Judicial da Diocese da Campanha (MG)


Convertei-vos e crede no evangelho 




Caríssimos irmãos e irmãs,
Inicia-se hoje, na Quarta-feira de Cinzas, o tempo da quaresma, tempo esse que na Sagrada Escritura retrata o tempo que Jesus passou no deserto, quando jejuou e orou por 40 dias. Ele teve fome e sede e foi tentado por satanás, mas resistiu firmemente.

Qual deve ser o verdadeiro sentido da quaresma? O verdadeiro sentido da quaresma deve ser de renúncia a muitas coisas que nos separam de Deus, mais especificamente, dever ser tempo de conversão, pois quando recebemos as cinzas, é dito pelo sacerdote e seus ministros “Convertei-vos e crede no evangelho”.

As cinzas querem nos lembrar de que “do pó viemos, e ao pó retornaremos”. Durante a quaresma, devemos pôr em prática o ato de refletir sobre os pecados da carne e, como Jesus, renunciar a cada um deles. Quando o pecado é renunciado, nos fortificamos espiritualmente e com isso somos agradáveis aos olhos de Deus.

A quaresma deve ser tempo de oração, para vencermos os obstáculos do dia-a-dia e estarmos mais perto de Pai. Deve ser vivida com penitência, para o arrependimento de nossos pecados e a reconciliação com Deus e com a Igreja, como prescreve o Direito Canônico. Deve também ser contemplada na sua essência, com a caridade, amando o próximo como a nós mesmos.

A Igreja nos pede essas três coisas na quaresma: oração, penitência e caridade. Não devemos claudicá-las, pois elas são a porta para compreendermos o verdadeiro significado da vinda de Cristo, que morreu por nós, para a salvação de todos.

Por fim, quero lembrar que “Eis o tempo de conversão; eis o dia da salvação”...

Acólito
Gustavo da Silva Santos
Diocese da Campanha.


Quaresma: o grande retiro dos cristãos


A palavra Quaresma vem do latim ”quadragésima”. Esse tempo litúrgico compreende os dias que vão da Quarta-feira de Cinzas até Quinta-feira Santa antes da missa da Ceia do Senhor. O número 40 é simbólico e recorda muitas cenas da Bíblia: os 40 anos de caminhada do povo hebreu pelo deserto, os 40 dias que Moisés passou na montanha, os 40 dias de caminhada de Elias para chegar à montanha do Senhor, os 40 dias de Jesus jejuando no deserto.

A Quaresma não tem sentido isolada da Páscoa. Na caminhada quaresmal não vamos ao encontro do nada ou da morte, mas caminhamos para a Ressurreição do Senhor e nossa.

As origens da quaresma são antigas e estão ligadas a outros acontecimentos, como a preparação dos catecúmenos ao Batismo, e a prática das penitências, muito em voga nos primeiros séculos. Já no século IV se fala de quaresma penitencial; nos séculos II e III, costumavam-se fazer alguns dias de jejum em preparação à Páscoa.

A Igreja, neste tempo quaresmal, une-se todos os anos ao mistério de Jesus no deserto. Portanto o espírito quaresmal é de um grande retiro de quarenta dias, durante os quais a Igreja propõe aos seus fiéis o exemplo de Cristo em seu retiro no deserto, e se prepara para a celebração das solenidades pascais, com a purificação do coração, uma prática perfeita da vida cristã e uma atitude penitencial.

As cinzas (que são os ramos bentos no Domingo de Ramos do ano anterior) que recebemos em nossa fronte no início da Quaresma, é um sinal de que nos comprometemos com uma verdadeira conversão. As cinzas são o símbolo da fragilidade humana, lembrando-nos a passagem bíblica que diz que ”tu és pó e ao pó voltarás” (Gênesis 3,19).

A penitência, tradução latina da palavra grega “metanóia”, que na Bíblia significa conversão (literalmente, mudança de espírito) do pecador, designa todo um conjunto de ações interiores e exteriores dirigidas para a reparação do pecado cometido e o estado das coisas que resulta dele para o pecador. Literalmente, mudança de vida se diz do ato do pecador de voltar a Deus depois de ter estado distante de Deus, o do incrédulo que alcança a fé.

A penitência interior do cristão pode ter expressões muito variadas. A Escritura e os Padres da Igreja nos falam de três formas: o jejum, a oração e a esmola, que expressam a conversão com relação a si próprio, a Deus e aos outros.


Todos os fiéis, cada um a seu modo, estão obrigados a fazer penitência pela lei divina. Para que todos se unam na observância de alguma prática, são prescritos dias penitenciais, que devem ser cumpridos com a maior fidelidade (cf. Código de Direito Canônico, 1249). No tempo da Quaresma, prescreve-se jejum e abstinência de carne na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa e, as sextas-feiras, como memória da morte do Senhor, são momentos fortes de prática penitencial da Igreja.

“Estes tempos são particularmente apropriados para os exercícios espirituais, as liturgias penitenciais, as peregrinações como sinal de penitência, as privações voluntárias como jejum e a esmola, a comunhão cristã dos bens - obras de caridade e missionárias.” (Catecismo da Igreja Católica, 1438)

Somos chamados a concretizar o desejo de conversão realizando as seguintes obras: indo ao encontro do Sacramento da Reconciliação (Penitência ou Confissão), fazendo uma clara confissão e arrependendo-nos de todo coração; superando as divisões, perdoando e crendo no espírito fraterno; praticando as obras de misericórdia.

Os católicos, na Quaresma, tem que cumprir o preceito do jejum e da abstinência, assim como confessar-se e fazer sua comunhão pascal. O jejum consiste em fazer uma só refeição ao dia, ainda que se possa comer menos do que o costume de manhã e à noite. Não se deve comer nada entre as refeições principais, salvo em caso de enfermidade. Obriga-se a viver a lei do jejum todos os maiores de idade, até que tenham cumprido 59 anos (Catecismo da Igreja Católica, 1252). A abstinência é a privação de comer carne e seus derivados, e a lei da abstinência obriga todos os que já fizeram 14 anos. (Catecismo da Igreja Católica, 1252)

Temos que participar melhor deste tempo que a Igreja nos propõe dentro do mistério pascal. Somos convidados à participação dos sacramentos, da missa, à participação nas comunidades, nas via- sacras, nas celebrações penitenciais. Boa quaresma a todos!

Padre José Cipriano Ramos Filho é sacerdote da Diocese de Piracicaba


Quaresma: a busca de um novo homem


Quaresma, período de penitência e preparação para a festa mais importante da fé cristã, a Páscoa. Embora seja um tempo penitencial, não é triste e depressivo, como muitos pensam. Trata-se de um tempo especial de purificação e de renovação da vida cristã para poder participar em plenitude e com mais alegria do mistério pascal de Cristo.

Durante quarenta dias somos convidados à experiência do deserto vivido por Jesus na tentação. O deserto, apesar de nos trazer a figura do sofrimento e da penúria, remete-nos à esperança de renascermos para uma vida nova, assim como o povo de Israel que, após a libertação da escravidão no Egito, chegou à Terra Prometida.

A Quaresma nos chama à renovação, conversão e “morte ao pecado”, para que possamos ressurgir para uma vida nova com Cristo na sua Páscoa. As cinzas, recebidas no início da Quaresma, são usadas como sinal desse arrependimento e luto pelo pecado. Dessa forma, reconhecemos que somos todos igualmente pecadores e pedimos ao Senhor a graça da conversão, a fim de mudar nossa vida pessoal e social.

A Igreja recomenda aos cristãos três principais obras de misericórdia que, de modo especial na Quaresma, devem ser praticadas frequentemente: a oração, para o recolhimento e proximidade com Deus; o jejum, renúncia alegre do supérfluo, como forma de ser solidário com aqueles que não têm o necessário; e a esmola, não de forma mesquinha de quem dá o que sobra, mas no sentido bíblico de ter amor e compaixão pelos excluídos e injustiçados. Esses gestos não podem fazer parte do nosso cotidiano como um mero costume ou formalismo, pois acabariam perdendo seu real significado, o de serem um método a serviço da vida, uma forma de possibilitar o encontro do homem consigo mesmo, com Deus e com os outros irmãos.

Como diz o documento “Sacrosanctum Concilium”, do Concílio Vaticano II, “a penitência do tempo quaresmal não seja somente interna e individual, mas também externa e social.” (SC, 110) Por isso a Igreja no Brasil organiza todos os anos, durante o tempo da Quaresma, desde 1964, a Campanha da Fraternidade que focaliza um aspecto de nossa vida em sociedade em que a fraternidade não está sendo vivida, a fim de que, como cristãos, possamos contribuir para que a humanidade alcance este objetivo. Este ano, ela tem como tema “Fraternidade e segurança pública” e como lema “A paz é fruto da justiça”.
Por ocasião da Quaresma, são retirados das celebrações litúrgicas os cantos de Glória e de Aleluia, que manifestam alegria e regozijo para dar lugar a um clima de maior recolhimento e penitência. Pelo mesmo motivo, o ambiente das igrejas requer sobriedade e despojamento não se usando flores nem outros enfeites para orná-lo.

A Quaresma é um tempo privilegiado para intensificar o caminho da própria conversão. Esse caminho supõe cooperar com a graça, para dar morte ao homem velho que atua em nós. Trata-se de romper com o pecado que habita em nossos corações, afastando-nos de tudo aquilo que nos separa do Plano de Deus e, por conseguinte, de nossa felicidade e realização pessoal.

Reflitamos a palavra de Cristo que nos diz: “Não se coloca vinho novo em odres velhos; do contrário, os odres se rompem, o vinho se derrama e os odres se perdem. Coloca-se, porém, o vinho novo em odres novos, e assim tanto um como outro se conservam.” (Mt 9, 17) Portanto, para que a Páscoa seja vivida com toda a sua riqueza espiritual, a Quaresma deve ser vista como um meio de conversão, uma proposta de caminhada em busca do nascimento de um homem novo.

Emanuel Costa Arantes é postulante da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos


Tempo da Quaresma


“Convertei-vos e crede no Evangelho. Lembra-te que és pó e ao pó retornarás” São duas reflexões que nos são propostas quando o ministro sagrado, num gesto sacramental, impõe cinzas sobre nossas cabeças que se curvam penitentes.

Não vamos receber as cinzas como num ritual sem sentido. Conscientes do pecado do mundo, do nosso pecado também, que quer destruir o plano divino, caminhamos ao encontro da misericórdia de Deus que, pela Encarnação de seu Filho vem restaurar a Humanidade e a todo o Universo.

 A pregação do profeta Joel que, neste primeiro dia da Quaresma, ecoa em toda a Igreja, nos convoca a conversão, a rasgar nosso coração na sua profundeza, ao arrependimento e a nos abrirmos à bondade divina, acreditando no Evangelho.

A penitência que fazemos, o jejum,a oração e a esmola não são obras externas. Nascidas no interior da nossa consciência, apresentamo-las ao Pai, sem trombetearmos pelas ruas e praças, mas na humildade do publicano que, do fundo do templo, batia no peito dizendo “Meu Deus, tem piedade mim que sou pecador” (Lc. 18,13).
E sendo uma penitência eclesial, ela não é exclusivamente pessoal; é a penitência de todos os que, batizados, cremos na redenção que, pela sua paixão e morte, o Filho de Deus traz a humanidade na confirmação de sua ressurreição.

A nossa falta de fidelidade ao Evangelho, ao reconhecimento do único Deus verdadeiro, à fraternidade entre os irmãos deve conduzir-nos à uma conversão sincera, aos valores que reconhecemos pela fé. “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está perto. Convertei-vos e crede no Evangelho.” (Mc 1, 15)

Sintonizados com os nossos Pastores, procuramos descobrir onde estamos mais falhos na fé e na missão. No Brasil, neste ano, vamos meditar na solidariedade e segurança. A falta de fé e solidariedade conduziu-nos a uma angústia do medo. Fechamos nossas casas e nossas propriedades. Fechamo-nos a nós mesmos. Não reconhecemos o próximo. Queremos uma segurança pessoal, como se a técnica e os homens pudessem nô-la dar.

Esquecemo-nos do que nos pode garantir a tranqüilidade e a paz: a caridade, o amor. Enquanto continuarmos a considerar o homem como lobo do próprio homem, e passarmos ao largo da miséria como se nada tivéssemos a ver com ela, enquanto espoliarmos o próximo no liberalismo da política econômica e da política social, em vão procuraremos segurança.

A paz só nos advém da Justiça. Não da justiça farisaica, que foi condenada por Jesus: “Se a vossa justiça não for superior à dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos céus.” (Mt. 5,20).  A verdadeira Justiça é a santidade, que supera o “dente por dente e o olho por olho”, no amor, buscando com todas as forças a perfeição, como o Mestre conclui sua pregação: “Sede, portanto, perfeitos, como vosso Pai Celeste.” (Mt. 5, 39-48)

A reflexão sobre o tema da Campanha da Fraternidade deste ano, leva-nos a sair de nós mesmos, do nosso medo, da atribuição de culpa a outrem. Procuremos contribuir na construção do Reino, na solidariedade com nossos irmãos.

A nossa penitência não pode ser exterior, como pregava São Leão, Papa, no sermão 4 da Quaresma: “Não só na abstinência de alimento consiste nosso jejum: para frutuosamente subtrairmos o alimento ao corpo temos de arrancar a iniqüidade do nosso espírito.”

Bento XVI na sua mensagem quaresmal, ressaltando as práticas penitenciais, sobretudo do jejum, insiste no mesmo tema: “A Quaresma seja portanto valorizada em cada família e em cada comunidade cristã para afastar tudo o que distrai o espírito e para intensificar o que alimenta a alma, abrindo-a ao amor de Deus e do próximo.”

A purificação da nossa vida de fé, refletindo numa caridade sem limites nos levará a pratica da justiça, a sermos perfeitos como o Pai, a quem, seguros e libertos, podemos confiar nossos dias: “Aquele que habita à sombra do Altíssimo, descansará na proteção do Deus do Céu”. (Sl.91 (90).

Dom Eurico dos Santos Veloso
Administrador Apostólico de Juiz de Fora(MG)


Quaresma


Com a celebração da Quarta-feira de Cinzas, iniciamos a Quaresma, tempo extraordinário de busca da conversão e vivência do tempo de graça e salvação. Através da oração, do jejum, da prática da caridade, da escuta da Palavra de Deus, da participação dos sacramentos, na vida comunitária e na prática do amor solidário, somos convidados pela Mãe Igreja a viver, de maneira intensa, o momento mais importante do ano litúrgico e da história da salvação: a Páscoa. Por isso mesmo, a Quaresma nos prepara para esse momento sublime.
Devemos, contudo, alimentar o receio de que seja apenas mais uma Quaresma, que corre célere com a velocidade do tempo, sem pararmos para confrontar toda a nossa vida com Deus e com a Páscoa do Seu Filho Jesus Cristo. Receio de que a Páscoa nos surpreenda na rotina da nossa vida. Que não tomemos a sério a advertência do Apóstolo Paulo: “Este é o tempo favorável, este é o dia da salvação” (2Cor. 6,2).

Qual o significado da Quaresma em uma sociedade secularizada? A Quaresma é, para a Igreja, um momento de verdade, de se assumir como “resto fiel”, povo que o Senhor escolheu e conduz. É o tempo propício para assumirmos corajosamente a nossa diferença no mundo em que vivemos: diferença na fé, nas motivações e nos critérios. É tempo de penetrar nos desígnios de Deus a nosso respeito, de percebermos que Ele tem uma vontade para o Seu povo, onde revela os caminhos da vida e que nos fortalece com o Seu Espírito, para podermos percorrê-los. Tomemos consciência de que a Quaresma tem de ser, para nós, tempo de discernimento e de fidelidade.
A Quaresma nos pede, em primeiro lugar, uma amizade sincera e profunda com Nosso Senhor. Nesse sentido, é atual o grito dramático do Profeta Joel: “Convertei-vos a Mim, de todo o coração, com jejuns, lágrimas e lamentações. Rasgai o vosso coração, não os vossos vestidos. Convertei-vos ao Senhor vosso Deus” (Jl 2,12-13). Num tom igualmente sério, São Paulo Apóstolo escreve aos Coríntios: “Nós vos pedimos, em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20). Portanto, se nós, cristãos, não acolhemos estes apelos, quem os há-de ouvir?

Este tempo litúrgico quer, ainda, nos ajudar a voltar os olhos para Deus, numa sociedade em que Deus foi relativizado. Está na moda fazer um profissão de fé do agnosticismo. O homem, considerado como indivíduo, e não como pessoa, necessariamente comprometido com uma comunidade, tornou-se o único critério de verdade e de discernimento ético. Deus deixou de ter lugar na história. Apesar do apregoado respeito pelas religiões e pela fé de quem acredita, alguns não hesitam em brincar com o sagrado; chegou-se mesmo a apregoar, em nome da liberdade, o direito à blasfêmia.

Urge reafirmar que, para nós que buscamos o rosto de Deus e procuramos viver a vida em diálogo com Ele, isso nos indigna e magoa, porque temos gravado no nosso coração aquele mandamento primordial: “não invocarás o Santo Nome de Deus em vão”, porque com o sagrado não se brinca. O respeito pelo sagrado é algo que a cultura não pode pôr em questão, mesmo em nome da liberdade. A todos esses que sentem não acreditar em Deus, eu digo em nome dos meus irmãos na fé em Cristo: a vossa dificuldade em acreditar em Deus não toca na realidade insofismável de Deus. Nós respeitamos a vossa descrença e não hesitamos em dar-vos as mãos em todas as lutas pelo bem e por causas justas. Mas respeitai a nossa fé, mesmo no exercício da vossa liberdade. Sobretudo, respeitai Deus em quem acreditamos.

Nesse primeiro dia da Quaresma, dia de jejum e de abstinência de carne, ouviremos o apelo dramático para sermos abertos à conversão ao Senhor nosso Deus, que nos chama à conversão, à penitência e à mudança radical de vida, procurando redescobrir a Sua Lei, a santa Lei de Deus. Ele tem uma vontade a nosso respeito, um desígnio de amor que nos revela pela Sua Palavra. A Lei de Deus é revelação e chamamento e o exercício da nossa liberdade só pode ser uma obediência a essa Palavra. Esse caminho de obediência é difícil e exigente, mas é possível com a força do Seu amor. Só Deus torna possível a nossa fidelidade, vivendo a vida segundo a Sua vontade, percorrendo os caminhos do Seu desígnio.

A Quaresma é um tempo em que somos chamados a viver ao ritmo da graça, recorrendo a todas as ajudas que, para isso, Deus nos dá por Jesus Cristo, através da força sacramental da Igreja. Não tenhamos ilusões. Muitas das fragilidades dos cristãos devem-se ao fato de reduzirem a sua vida à ordem da natureza, esquecendo que a retidão natural, mesmo que se consiga, não é ainda a santidade. Daí, a Quaresma nos apresenta uma forte interpelação à conversão, o que significa aceitar os nossos pecados e a confiança na misericórdia transformadora de Deus. Não tenhamos ilusões: somos todos pecadores e talvez o nosso principal drama seja o de não identificarmos os nossos pecados, no concreto da nossa vida. E essa situação só mudará se nos convertermos ao Deus Vivo e voltarmos a amar a Sua Lei. A conversão é uma experiência de realismo e de confiança: realismo de quem reconhece o seu pecado, confiança na infinita misericórdia de Deus: “Ele é clemente e compassivo, paciente e misericordioso, pronto a desistir dos castigos que promete” (Jl 2,13).
Com a cerimônia da imposição das cinzas, neste dia, inaugura-se a Quaresma, estação espiritual particularmente relevante para todo cristão que quer se preparar dignamente para viver o Mistério Pascal, quer dizer, a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus. Este tempo vigoroso do Ano Litúrgico se caracteriza pela mensagem bíblica que pode ser resumida em uma palavra: “matanoeiete”, que quer dizer "convertei-vos". Este imperativo é proposto à mente dos fiéis mediante o austero rito da imposição das cinzas, o qual, com as palavras “Convertei-vos e crede no Evangelho” e com a expressão “Lembra-te de que és pó e para o pó voltarás”, a Igreja convida todos à reflexão sobre o dever da conversão, recordando a inexorável caducidade e efêmera fragilidade da vida humana, sujeita à morte. A sugestiva cerimônia das cinzas eleva nossa mente à realidade eterna que não passa jamais, a Deus, princípio e fim, alfa e ômega de nossa existência.

A conversão não é, com efeito, nada mais que um voltar a Deus, valorizando as realidades terrenas sob a luz indefectível de sua verdade. Uma valorização que implica uma consciência cada vez mais diáfana do fato de que estamos de passagem neste fadigoso itinerário sobre a terra e que nos impulsiona e estimula a trabalhar até o final, a fim de que o Reino de Deus se instaure dentro de nós e triunfe em sua justiça.

Oração, conversão, penitência, jejum, esmola(cf. Mt 6,1-6.16-18), mudança de mentalidade, são estas expressões de livre positivo esforço no seguimento de Cristo, buscando uma vida digna, com segurança, sempre sintonizados com a Campanha da Fraternidade que nos convida a refletir sobre a Fraternidade e a segurança Pública. Que tenhamos uma Quaresma realmente propícia para a mudança de mentalidade e para a busca do Rosto de Deus.

Padre Wagner Augusto Portugal
Vigário Judicial da Arquidiocese de Juiz de Fora (MG)


A quaresma se inicia com a Quarta-feira de cinzas. Por que?




História da Quarta-feira de cinzas da Quaresma 

Com a Quarta-Feira de Cinzas, começa oficialmente o tempo da Quaresma e o Ciclo Pascal.

Quaresma, uma vez mais. Tempo forte na caminhada do ano eclesiástico. Convite e apelo para o silêncio, a prece, a conversão.

E quando se fala em quaresma, geralmente a gente tem uma idéia de uma coisa negativa, como antigamente.

Tempo de medo, de cachorro zangado, de mula sem cabeça e outras coisas mais. Para outros a quaresma parece superada pelo modernismo e é hoje apenas uma recordação negativa do passado ou um retrato na parede, simplesmente.

Penso, para nós cristãos é o tempo de conversão, de mudança de vida, de acolher com mais amor a misericórdia de Deus que nos quer perdoar.


E é também o tempo onde as comunidades se preparam para viver o mistério da páscoa. Isto é, tempo da hora de Jesus Cristo do seu seguimento em que ele caminha em direção da sua hora que é a entrega total da sua vida a Deus pelos homens, seus irmãos.A quaresma é para cada um de nós um tempo de oração e de conversão.

Tempo de crescer em comunhão com todos os homens, principalmente com os mais pobres e necessitados.

Eles nos lembram o rosto sofrido de Jesus e nos convidam a viver com mais fidelidade a caridade, o amor fraterno, que o Evangelho exige de nós.:

A quaresma se inicia com a Quarta-feira de cinzas. Por que?

A Bíblia nos conta que, certa vez, o general Holofernes, com um grande exército, marchou contra a cidade de Betúlia. O povo da cidade, aterrorizado, reuniu-se para rezar a Deus. E todos cobriram de cinzas as suas cabeças, pedindo o perdão e a misericórdia de Deus. E Deus salvou o povo pelas mãos de Judite. A cinza, por sua leveza, é figura das coisas que se acabam e desaparecem. É usada como um sinal de penitência e de luto. Nós a usamos hoje, neste Quarta-feira de cinzas, o primeiro dia da quaresma, reconhecendo que somos pecadores e pedindo perdão de Deus, desejosos de mudarmos de vida.



Quarta-feira de cinzas tempo de jejum e abstinência!



Certa vez, numa exposição de pinturas em Londres, um artista apresentou um quadro que ficou famoso. Quem olhasse para aquela pintura, à primeira vista tinha a impressão de estar vendo um homem piedoso em atitude de oração: ajoelhado, de mãos postas, cabeça baixa, possuído de grande paz interior. Aproximando-se, porém, da tela e vendo com mais atenção, percebia-se que a coisa era bem diferente: via-se um homem espremendo um limão num copo, tendo o rosto tomado de ira. O genial pintor quis retratar ali um homem hipócrita. De fato, olhando superficialmente, o hipócrita parece um homem piedoso. Mas é só aparência. Na realidade, até quando está rezando, está muitas vezes tramando alguma coisa contra alguém. O grande pecado do hipócrita é esse: Ele não serve a Deus. Pelo contrário: serve-se de Deus. É um falso santo. Tem mãos postas, a cabeça inclinada e olhar de piedade, mas não está orando. Ao contrário: está apenas tirando proveito da religião em benefício de seu egoísmo. Esse tipo de gente só faz mal à Igreja tanto é que, quando a televisão quer ridicularizar a religião, focaliza esses piedosos hipócritas. Mostra tais beatas rezando na igreja, com véu na cabeça, rosário na mão e olhares piedosos... Depois mostra os mesmos fazendo o contrário fora da Igreja.
Jesus era chamado de o bom mestre. Como de fato Ele o era. Perdoou a Maria Madalena, a pecadora, perdoou a Pedro que o traiu, perdoou o ladrão no alto da cruz, mas se existia uma classe de gente que ele não engolia eram os escribas e os fariseus. Para eles Jesus lançou as palavras mais duras: "Ai de vós escribas e fariseus hipócritas... vós pareceis com os sepulcros caiados , que é pintado por fora, mais lá dentro existe toda a espécie de podridão". Gostavam de se mostrar ao fazer o jejum, ao dar esmolas, pagar o dízimo, etc.O jejum, a esmola e a oração são expressões de nossa gratidão a Deus por tudo o que ele nos concede, por isso não há motivo para exaltar nossas ações caridosas perante os homens.

Pe. Lucas de Paula Almeida, CM



Origem, história e espiritualidade da Quaresma


Pode-se entender melhor o significado da Quaresma, decidida pelo Vaticano II,conhecendo a história deste tempo litúrgico. A celebração da Páscoa, nos três primeiros séculos da Igreja, não tinha um período de preparação. Limitava-se a um jejum realizado nos dois dias anteriores. A comunidade cristã vivia tão intensamente o empenho cristão, até o testemunho do martírio , que não sentia a necessidade de um período de tempo para renovar a conversão já acontecida com o batismo.

Ela prolongava, porém, a alegria da celebração pascal por cinqüenta dias ( Pentecostes). Após a Paz de Constantino, quando a tensão diminuiu no empenho da vida cristã, começou-se a perceber a necessidade de um período de tempo para admoestar os fiéis sobre uma maior coerência com o batismo.Nascem assim as prescrições sobre um período de preparação à Páscoa.

No Oriente, encontramos os primeiros sinais de um período pré-pascal, como preparação espiritual à celebração do grande mistério, no princípio do século IV. Santo Atanásio nas "Cartas pascais" (entre os anos 330 e 347), São Cirilo de Jerusalém nas Protocatequeses e nas Catequeses mistagógicas (347), fala desse período como realidade conhecida. Eusébio (+340) em De solemnitate paschali fala do "quadragesimo exercitium......santos Moyses e Eliam imitantes" (Cf. PG 24,697).

No Ocidente, temos testemunhos diretos somente no fim do século IV. Falam desse período Etéria (385) em seu Itinerarium (27,1) pela Espanha e Aquitânia; Santo Agostinho para a África; Santo Ambrosio (+ 396) para Milão. Não sabemos com certeza onde, por meio de quem e como surgiu a Quaresma, sobretudo em Roma; apenas sabemos que ela foi se formando progressivamente. Ela tem uma pré-história , ligada a uma praxe penitencial preparatória à Páscoa, que começou a firmar-se desde a metade do século II. Até o século IV, a única semana de jejum era aquela que precedia a Páscoa . Na metade do século IV, já vemos acrescentadas a esta semana outras três, compreendendo assim quatro semanas.A partir do fim do século IV, a estrutura da Quaresma é aquela dos "quarentas dias", considerados à luz do simbolismo bíblico, que dá a este tempo um valor salvífico-redentor, cujo sinal é a denominação "sacramentum".

Celebrar a Quaresma é portanto, reconhecer a presença de Deus na caminhada, no trabalho, na luta, no sofrimento e na dor da vida do povo.Como o povo de Israel, que andou 40 anos no deserto antes de chegar à terra prometida, terra da promessa onde corre leite e mel. Como Jesus, que passou quarenta dias de retiro no deserto antes de anunciar a vinda do Reino.Que subiu a Jerusalém para cumprir a missão que o Pai lhe confiou: dar a sua vida e ser glorificado.A Quaresma, e isso é bem evidenciado na sua história, é um tempo forte de conversão e de mudança interior, tempo de deixar tudo o que é velho em nós, tempo de assumir tudo o que traz vida para a gente.Tempo de graça e salvação, em que nos preparamos para viver, de maneira intensa, livre e amorosa, o momento mais importante do ano litúrgico, da história da salvação, a Páscoa, aliança definitiva, vitória sobre o pecado, a escravidão e a morte. A espiritualidade da quaresma é caracterizada também por uma atenta, profunda e prolongada escuta da Palavra de Deus. É esta Palavra que ilumina a vida e chama à conversão, infundindo confiança na misericórdia de Deus.O confronto com o Evangelho ajuda a perceber o mal, o pecado, na perspectiva da Aliança, isto é, a misteriosa relação nupcial de amor entre deus e o seu povo. Motiva para atitudes de partilha do amor misericordioso e da alegria do Pai com os irmãos que voltam convertidos. Fazer da Quaresma um tempo favorável de avaliação de nossas opções de vida e linha de trabalho, para corrigir os erros e aprofundar a vivencia da fé, abrindo-nos a Deus, aos outros e realizando ações concretas de fraternidade, de solidariedade.

Padre Gian Luigi Morgano


O que é a Quaresma?


A quaresma é o tempo litúrgico de conversão, que a Igreja marca para nos preparar para a grande festa da Páscoa. É tempo para nos arrepender de nossos pecados e de mudar algo de nós para sermos melhores e poder viver mais próximos de Cristo.

A Quaresma dura 40 dias; começa na Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos. Ao longo deste tempo, sobretudo na liturgia do domingo, fazemos um esfoço para recuperar o ritmo e estilo de verdadeiros fiéis que devemos viver como filhos de Deus.

A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de reflexão, de penitência, de conversão espiritual; tempo e preparação para o mistério pascal.

Na Quaresma, Cristo nos convida a mudar de vida. A Igreja nos convida a viver a Quaresma como um caminho a Jesus Cristo, escutando a Palavra de Deus, orando, compartilhando com o próximo e praticando boas obras. Nos convida a viver uma série de atitudes cristãs que nos ajudam a parecer mais com Jesus Cristo, já que por ação do pecado, nos afastamos mais de Deus.

Por isso, a Quaresma é o tempo do perdão e da reconciliação fraterna. Cada dia, durante a vida, devemos retirar de nossos corações o ódio, o rancor, a inveja, os zelos que se opõem a nosso amor a Deus e aos irmãos. Na Quaresma, aprendemos a conhecer e apreciar a Cruz de Jesus. Com isto aprendemos também a tomar nossa cruz com alegria para alcançar a glória da ressurreição.

40 dias

A duração da Quaresma está baseada no símbolo do número quarenta na Bíblia. Nesta, é falada dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias e Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou o exílio dos judeus no Egito.

Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material, seguido de zeros significa o tempo de nossa vida na terra, seguido de provações e dificuldades.

A prática da Quaresma data desde o século IV, quando se dá a tendência a constituí-la em tempo de penitência e de renovação para toda a Igreja, com a prática do jejum e da abstinência. Conservada com bastante vigor, ao menos em um princípio, nas Igrejas do oriente, a prática penitencial da Quaresma tem sido cada vez mais abrandada no ocidente, mas deve-se observar um espírito penitencial e de conversão


Vivendo a Quaresma


Durante este tempo especial de purificação, contamos com uma série de meios concretos que a Igreja nos propõe e que nos ajudam a viver a dinâmica quaresmal.

Antes de tudo, a vida de oração, condição indispensável para o encontro com Deus. Na oração, se o cristão inicia um diálogo íntimo com o Senhor, deixa que a graça divina penetre em seu coração e, a semelhança de Santa Maria, se abra à ação do Espírito cooperando com ela com sua resposta livre e generosa (ver Lc. 1,38).

Como também devemos intensificar a escuta e a meditação atenta à Palavra de Deus, a assistência freqüente ao Sacramento da Reconciliação e a Eucaristia, e mesmo a prática do jejum, segundo as possibilidades de cada um.

A mortificação e a renúncia nas circunstâncias ordinárias de nossa vida também constituem um meio concreto para viver o espírito de Quaresma. Não se trata tanto de criar ocasiões extraordinárias, mas bem, de saber oferecer aquelas circunstâncias cotidianas que nos são incômodas, de aceitar com alegria os diferentes contratempos que nos apresenta o dia a dia. Da mesma maneira, o saber renunciar a certas coisas legítimas nos ajuda a viver o desapego e o desprendimento. Dentre as diversas práticas quaresmais que a Igreja nos propõe, a vivência da caridade ocupa um lugar especial. Assim nos recorda São Leão Magno: "estes dias de quaresma nos convidam de maneira apremiante ao exercício da caridade; se desejamos chegar à Pascoa santificados em nosso ser, devemos por um interesse especialíssimo na aquisição desta virtude, que contém em si as demais e cobre multidão de pecados".

Esta vivência da caridade deve ser vivida de maneira especial com aqueles a quem temos mais próximos, no ambiente concreto em que nos movemos. Assim, vamos construindo no outro "o bem mais precioso e efetivo, que é o da coerência com a própria vocação cristã" (João Paulo II)

Como viver a Quaresma



1. Arrependendo-me de meus pecados e confessando-me.

Pensar em quê ofendi a Deus, Nosso Senhor, se me dói tê-lo ofendido, se estou realmente arrependido. Este é um bom momento do ano para realizar uma confissão preparada e de coração. Revise os mandamentos de Deus e da Igreja para poder fazer uma boa confissão. Sirva-se de um livro para estruturar sua confissão. Busque tempo para realizá-la.



2. Lutando para mudar:

Analise sua conduta para conhecer em quê esta falhando. Faça propósitos para cumprir dia a dia e revise à noite se os alcançou. Lembre-se de não colocar muitos propósitos porque será muito difícil cumpri-los todos . Deve-se subir as escadas de degrau em degrau, não se pode subir toda ela de uma só vez. Conheça qual é o seu defeito dominante e faça um plano para lutar contra ele. Teu plano deve ser realista, prático e concreto para poder cumpri-lo.



3. Fazendo sacrifícios:

A palavra sacrifício vem do latim sacrum-facere, significa "fazer sagrado". Então, fazer um sacrifício é fazer alguma coisa sagrada, quer dizer, oferecê-la por amor a Deus, porque o ama, coisas que dão trabalho. Por exemplo, ser amável com um vizinho com quem você não simpatiza ou ajudar alguém em seu trabalho. A cada um de nós há algo que nos custa fazer na vida de todos os dias. Se oferecemos isto a Deus por amor, estamo fazendo sacrifício.



4. Oração:

Aproveite estes dias para rezar, para conversar com Deus, para dizê-lo que o ama e que quer estar com Ele. Pode ser útil um bom livro de meditação para Quaresma. Você pode ler na Bíblia passagens relacionadas com a quaresma.


A Confissão - Como se confessar.


A Igreja recebeu o poder de perdoar os pecados no dia da Ressurreição do Senhor. Para fazer uma boa confissão, é necessário fazer um minucioso exame de consciência. Aqui seguem os passos:


1. Cumprir com cada uma das partes da Confissão:

a) Exame de Consciência
b) Dor de coração
c) Propósito de emenda
d) Confissão de boca
e) Satisfação de obra



2. Ter presente a forma de se confessar:

a) Rito inicial:

Sacerdote: Ave Maria Puríssima
Penitente: Sem pecado concebida. Abençoe-me padre porque pequei
Há … fiz minha última confissão. Meus pecados são os seguintes…

b) Corpo do sacramento

- O penitente confessa seus próprios pecados;
- Escuta depois a palavra do sacerdote;
- Aceita a obra de penitência que lhe é proposta para satisfação de seus pecados e para emenda de sua vida;
- Manifesta seu arrependimento recitando o ATO DE CONTRIÇÃO
com a seguinte fórmula:

Senhor Jesus, Cordeiro de Deus
que tiras o pecado do mundo,
reconcilia-me com o Pai pela graça do Espírito Santo;
purifica-me de todos meus pecados
e faz de mim um homem novo. Amém.

- finalmente o sacerdote dá a absolvição ao penitente.


c) Despedida:

Sacerdote: O Senhor perdoou teus pecados. Ide em paz.

Perguntas de ajuda

Examine - ajudado por estas perguntas - que pecados cometeu desde sua última confissão? Trata-se de não ficar somente no exterior, mas nas atitudes do coração e as omissões.

RUPTURA COM DEUS:
Amo de verdade a Deus com todo meu coração ou vivo apegado às coisas materiais?

Me preocupei em renovar minha fé cristã através da oração, a participação ativa e atenta na missa dominical, e a leitura da Palavra de Deus, etc.? Guardo os domingos e dias de festa da Igreja? Cumpri com o preceito anual da confissão e da comunhão pascal?

Tenho uma relação de confiança e amizade com Deus, ou cumpro somente os ritos externos?

Professei sempre, com vigor e sem temores minha fé em Deus? Manifestei minha condição de cristão na vida pública e privada?

Ofereço ao Senhor meus trabalhos e alegrias? Recorro a Ele constantemente, ou só o busco quando necessito?

Tenho reverência e amor ao nome de Deus ou o ofendo com blasfêmias, falsos juramentos ou usando seu nome em vão?

RUPTURA COMIGO MESMO:
Sou soberbo e vaidoso? Me considero superior aos demais?

Busco aparentar algo que não sou para ser valorizado pelos outros? Aceito a a mim mesmo, ou vivo na mentira e no engano? Sou escravo de meus complexos?

Que uso tenho feito do tempo e dos talentos que Deus me deu?

Me esforço para superar os vícios e más inclinações como a preguiça, a avareza, a gula, a bebida, a droga?

Caí na luxúria com palavra e pensamentos impuros, com desejos ou ações impuras?

Fiz leituras ou assisti a espetáculos que reduzem a sexualidade a um mero objeto de prazer?

Caí na masturbação ou na fornicação? Cometi adultério? Recorri a métodos artificiais para o controle da natalidade?

RUPTURA COM OS IRMÃOS E COM A CRIAÇÃO:
Amo de coração a meu próximo como a mim mesmo e como o Senhor Jesus me pede que ame?

Em minha família colaboro para criar um clima de reconciliação com paciência e espírito de serviço? Os filhos tem sido obedientes a seus pais, rendendo-lhes respeito e ajuda em todo momento? Os pais se preocupam em educar de maneira cristã a seus filhos e de alentá-los em seu compromisso de vida com o Senhor Jesus?

Abusei de meus irmãos mais fracos, usando-os para meus fins?

Insultei a meu próximo? O escandalizei gravemente com palavras e ações? Se me ofenderam, sei perdoar,ou guardo rancor e desejo de vingança?

Compartilho meus bens e meu tempo com os mais pobres, ou sou egoísta e indiferente à dor dos demais? Participo das obras de evangelização e promoção humana da Igreja?

Me preocupei pelo bem e a prosperidade da comunidade humana em que vivo ou passo a vida me preocupando somente comigo mesmo?

Cumpri com meus deveres cívicos? Paguei meus tributos? Sou invejoso? Sou fofoqueiro e charlatão? Difamei ou caluniei a alguém? Violei algum segredo? Fiz juízos temerários sobre os outros?

Sou mentiroso?

Causei algum dano físico ou moral a outros? Fiz inimizades com ódio, ofensas ou brigas com meu próximo? Fui violento?

Procurei ou induzi ao aborto?

Fui honesto em meu trabalho? Usei retamente a criação ou abusei dela para fins egoístas? Pratiquei roubo? Fui justo em relação a meus subordinados tratando-os como eu gostaria de ser tratado por eles? Participei em venda ou consumo de drogas? Pratiquei fraude?

Recebi dinheiro ilícito?


Quarta-feira de Cinzas 


Com a imposição das cinzas, inicia-se uma estação espiritual particularmente relevante para todo cristão que quer se preparar dignamente para viver o Mistério Pascal, quer dizer, a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus.
Este tempo vigoroso do Ano litúrgico se caracteriza pela mensagem bíblica que pode ser resumida em uma palavra: " matanoeiete", que quer dizer "Convertei-vos". Este imperativo é proposto à mente dos fiéis mediante o austero rito da imposição das cinzas, o qual, com as palavras "Convertei-vos e crede no Evangelho" e com a expressão "Lembra-te de que és pó e para o pó voltarás", convida a todos a refletir sobre o dever da conversão, recordando a inexorável caducidade e efêmera fragilidade da vida humana, sujeita à morte.

A sugestiva cerimônia das cinzas eleva nossas mentes à realidade eterna que não passa jamais, a Deus; princípio e fim, alfa e ômega de nossa existência. A conversão não é, com efeito, nada mais que um voltar a Deus, valorizando as realidades terrenas sob a luz indefectível de sua verdade. Uma valorização que implica uma consciência cada vez mais diáfana do fato de que estamos de passagem neste fadigoso itinerário sobre a terra, e que nos impulsiona e estimula a trabalhar até o final, a fim de que o Reino de Deus se instaure dentro de nós e triunfe em sua justiça.

Sinônimo de "conversão", é também a palavra "penitência" …
Penitência como mudança de mentalidade. Penitência como expressão de livre positivo esforço no seguimento de Cristo.

Tradição
Na Igreja primitiva, variava a duração da Quaresma, mas eventualmente começava seis semanas (42 dias) antes da Páscoa.

Isto só dava por resultado 36 dias de jejum (já que se excluem os domingos). No século VII foram acrescentados quatro dias antes do primeiro domingo da Quaresma estabelecendo os quarenta dias de jejum, para imitar o jejum de Cristo no deserto.

Era prática comum em Roma que os penitentes começassem sua penitênica pública no primeiro dia de Quaresma. Eles eram salpicados de cinzas, vestidos com saial e obrigados a manter-se longe até que se reoconciliassem com a Igreja na Quinta-feira Santa ou a Quinta-feira antes da Páscoa. Quando estas práticas caíram em desuso (do século VIII ao X) o início da temporada penitencial da Quaresma foi simbolizada colocando cinzas nas cabeças de toda a congregação.
Hoje em dia na Igreja, na Quarta-feira de Cinzas, o cristão recebe uma cruz na fronte com as cinzas obtidas da queima das palmas usadas no Domingo de Ramos do ano anterior. Esta tradição da Igreja ficou como um simples serviço em algumas Igrejas protestantes como a anglicana e a luterana. A Igreja Ortodoxa começa a quaresma a partir da segunda-feira anterior e não celebra a Quarta-feira de Cinzas



Jejum e abstinência 


O jejum consiste em fazer uma só refeição forte ao dia. A abstinênica consiste em não comer carne. A Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira Santa são dias de abstinência e jejum. A abstinência é obrigatória a partir dos quatorze anos e o jejum dos dezoito aos cinqüenta e nove anos de idade.

Com estes sacrifícios, trata-se de que todo nosso ser (alma e corpo) participe em um ato onde reconheça a necessidade de fazer obras com as quais reparemos o dano causado com nossos pecados e para o bem da Igreja.


O jejum e a abstinência podem ser trocados por outro sacrifício, dependendo do que ditem as Conferências Episcopais de cada país, pois elas têm autoridade para determinar as diversas formas de penitência cristã.

Por que o Jejum?
É necessário dar uma profunda resposta a esta pergunta, para que fique clara a relação entre o jejum e a conversão, isto é, a transformação espiritual que aproxima o homem a Deus.

O abster-se de comida e bebida tem com como fim introduzir na existência do homem não somente o equilíbrio necessário, mas também o desprendimento do que se poderia definir como "atitude consumismo".

Tal atitude veio a ser em nosso tempo uma das características da civilização ocidental. O homem, orientado aos bens materiais, muito freqüentemente abusa deles. A civilização se mede então segundo quantidade e a qualidade das coisas que estão em condições de prover ao homem e não se mede com a medida adequada ao homem.
Esta civilização de consumo fornece os bens materiais não somente para que sirvam ao homem em ordem a desenvolver as atividades criativas e úteis, mas cada vez mais para satisfazer os sentidos, a excitação que deriva deles, o prazer, uma multiplicação de sensações cada vez maior.

O homem de hoje deve abster-se de muitos meios de consumo, de estímulos, de satisfação dos sentidos, jejuar significa abster-se de algo. O homem é ele mesmo quando consegue dizer a si mesmo: Não.

Não é uma renúncia pela renúncia: mas para melhor e mais equilibrado desenvolvimento de si mesmo, para viver melhor os valores superiores, para o domínio de si mesmo.



Etimologia Quaresmal (significado dos símbolos da Quaresma)



Conheça o significado dos símbolos da Quaresma.

INCENSO

O incenso vem de "incendere", "incender", é uma das resinas que produz um agradável aroma ao arder. Esta palavra latina dá também origem ao termo "incensário" (instrumento metálico para incensar), enquanto a raiz grega "tus", que também significa incenso, explica a palavra "turíbulo" (incensário) e "turiferário"(o que carrega o turíbulo).
O incenso é encontrado principalmente no Oriente, e desde antigamente no Egito, antes de os israelitas chegarem era usado em cerimônias religiosas, por seu fácil simbolismo de perfume e festa, de sinal de honra e respeito ou de sacrifício aos deuses. Já antes em torno da Arca da Aliança, mas sobretudo no templo de Jerusalém era clássico o rito do incenso (Ex. 30). A rainha de Sabá trouxe entre outros presentes grande quantidade de aromas a Salomão (1Rs.10). Os cristãos no século IV introduziram o incenso na linguagem simbólica de suas celebrações, quando se considerou superado o perigo anterior de confusão com os ritos idolátricos do culto romano.

Atualmente, o incenso é usado na missa, quando se quer ressaltar a festividade do dia, o altar, as imagens da Cruz ou da Virgem, o livro do evangelho, as oferendas sobre o altar, os ministros e o povo cristão no ofertório, o Santíssimo depois da consagração ou nas celebrações de culto eucarístico. Com isso quer significar às vezes um gesto de honra (ao Santíssimo, ao corpo do defunto nas exéquias), ou símbolo de oferenda sacrificial (no ofertório, tanto o pão e o vinho como as pessoas).


JEJUM

Chamamos "jejum" (latim "ieunium") à privação voluntária de comida durante algum tempo por motivo religioso, como ato de culto perante Deus.

Na Bíblia no jejum pode ser sinal de penitênica, expiação dos pecados, oração intensa ou vontade firme de conseguir algo.

Outras vezes, como nos quarenta dias de Moisés no monte ou de Elias no deserto ou de Jesus antes de começar sua missão, marca a preparação intensa para um acontecimento importante.

O jejum Eucarístico tem uma tradição milenar; como preparação para este sacramento, o cristão se abstém antes de outros alimentos.

É na Quaresma, desde o século IV, que sempre teve mais sentido aos cristãos o jejum como privação voluntária da que existem em outras culturas religiosas ou por motivos religiosos.

O jejum junto com a oração e a caridade, tem sido desde muito tempo uma "prática quaresmal" como sinal de conversão interior aos valores fundamentais do evangelho de Cristo. Atualmente nos abstemos de carne todas as sextas-feiras de Quaresma que não coincidem com alguma solenidade; fazemos abstinência e além do jejum (uma só refeição ao dia) na quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira Santa.

CÍRIO PASCAL
A palavra "círio" vem do latim "cereus", de cera, o produto das abelhas. Ao falar das "candeias" , aludíamos ao uso humano e ao sentido simbólico da luz que os círios produzem.

O círio mais importante é o que se acende na Vigília Pascal como símbolo de Cristo - Luz, e que fica sobre uma elegante coluna ou candelabro adornado.

O Círio Pascal é já desde os primeiros séculos um dos símbolos mais expressivos da vigília. Em meio à escuridão (toda a celebração é feita à noite e começa com as luzes apagadas), de uma fogueira previamente preparada se acende o Círio, que tem uma inscrição em forma de cruz, acompanhada da data do ano e das letras alfa e Ômega, a primeira e a última letra do alfabeto grego, para indicar que a posição de Cristo, princípio e fim do tempo e da eternidade, nos alcança com força sempre nova no ano concreto em que vivemos.

O Círio estará aceso em todas as celebrações durante cinqüenta dias, ao lado do ambão da Palavra, até a tarde do domingo de Pentecostes. Uma vez concluído o Tempo Pascal, convém que o Círio seja conservado dignamente no batistério, e não no presbitério.

QUINTA - FEIRA SANTA
A quinta - feira santa é o último dia da Quaresma e por sua vez, a partir da missa vespertina, a inauguração do Tríduo Pascal. Em latim seu nome clássico é "feria V in Coena Domini". É um dia íntimo para o povo cristão, certamente a quinta - feira mais importante do ano, principamente desde que a da Ascensão e do Corpus Christi são celebrados no domingo.

É o dia em que Cristo, em sua ceia de despedida antes da morte, instituiu a Eucaristia, deu a grande lição de humilde serviço lavando os pés dos seus apóstolos, e os constituiu sacerdotes mediadores de sua Palavra, de seus sacramentos e de sua salvação.

CEIA DO SENHOR
O nome que, junto ao de "fração do pão", o dá por exemplo São Paulo em 1Cor 11,20 ao que logo se chamou "Eucaristia" ou "Missa": "Kyriakon deipnon", ceia senhoril, do Senhor Jesus. É também o nome que se dá a Missa atual: "Missa ou Ceia do Senhor" (IGMR 2 e 7)

Na Quinta-feira Santa a Eucaristia com que se dá início ao Tríduo Pascal é a "Missa in Coena Domini", porque é a que mais intimamente recorda a instituição desde sacramento por Jesus em sua última ceia, adiantando assim sacramentalmente sua entrega na Cruz.

Terço sobre a Quaresma


Indicações: Selecionar os coros e os cantos antes do início do terço.

Todos: Pelo Sinal da Santa Cruz, livra-nos Deus, nosso Senhor, dos nossos inimigos.

Rezam-se as orações tradicionais.

Quaresma é um tempo de especial graça, é tempo favorável para nos convertermos. Nós, como Igreja, nos preparamos para viver e celebrar o Mistério da Reconciliação  cada vez com um coração mais convertido. Este é o sentido: converter nosso coração ao Senhor.

Meditemos neste terço sobre alguns meios que a Igreja nos propõe para poder nos prepararmos adequadamente para a celebração dos mistérios centrais da nossa fé.


PRIMEIRA MEDITAÇÃO: A iniciativa sempre é de Deus
Há dois meios que a Igreja nos propõe para este tempo litúrgico da Quaresma, que nos manifestam claramente que a iniciativa parte de Deus-Amor. Por um lado, nos propõe a ter uma escuta atenta e reverente da Palavra de Deus. Devemos ter durante esta Quaresma um constante contato com a Palavra Divina. Deus mesmo sai a nosso encontro e nos convida a nos preparar nutrindo-nos de sua própria Palavra. Esta leitura da Palavra de Deus, nos leva a uma oração mais intensa, e este é o segundo meio. Devemos nos nutrir da oração durante esta Quaresma, para não sucumbir e sair fortalecidos diante das tentações de Satanás. Esta oração deve mostrar nossa reconciliação com Deus que nos convida ao amor.

Pai nosso...

SEGUNDA MEDITAÇÃO: Cooperar com a graça de Deus
Outro meio que nos é proposto durante a Quaresma é receber os sacramentos da reconciliação e da Eucaristia. É necessário recorrer à misericórdia do Senhor. Para nos convertermos devemos deixar todo pecado. Mas sozinhos não podemos. Confiemos no perdão que o Senhor nos oferece. Não há pecado que Ele não possa nos perdoar. E vamos também ao encontro do Filho de Santa Maria, realmente presente na Eucaristia. Ele mesmo se oferece por nós e se entrega no altar da reconciliação.

Pai nosso...

TERCEIRA MEDITAÇÃO: O jejum e a abstinência

Dois meios que nos ajudam a ir preparando melhor nosso coração. Devemos tomar consciência da bênção que o Senhor nos dá. Muitos não se dão contam da importância disto. Quantos de nós sabemos do jejum e abstinência de todas as sexta-feira de Quaresma, como preparação. E quantos de nós realmente o vivemos?

Muito importante é também a mortificação e a renúncia em algumas circunstâncias ordinárias de nossa vida, ocasiões para nos aproximarmos da luz do Senhor e conformarmos com Ele, purificando nossos corações.

Nesta meditação vamos cantar o primeoiro Ave Maria.

Pai nosso...

QUARTA MEDITAÇÃO: Chamado à conversão
O Senhor nos convida a nos convertermos a Ele. Devemos chegar ao fundo de nós mesmos, pois se trata de morrer a todo o que é morte para ressuscitar a uma vida nova no Senhor.

Confiemos na misericórdia de Deus. Escutemos o que Ele mesmo nos diz na Escritura: (fazer uma pausa)

«E vos darei um coração novo, infundirei em vossos corações um espírito novo, tirarei de vossa carne o o coração de pedra e vos darei um coração de carne»

Pai nosso...

QUINTA MEDITAÇÃO: Em companhia de Maria
E todo este caminho que empreendemos, o fazemos na companhia terna e amorosa de nossa Santa Mãe. Ela é guia segura em nosso peregrinar à plena configuração com seu Filho, o Senhor Jesus. É Ela quem com sua intercessão nos ajuda a trocar nosso coração de pedra por um coração de carne.

Acolhamos a sua intercessão e confiemos a ela nosso esforços para viver intensamente este tempo de conversão.

Pai nosso...

Convertamos nosso coração, trabalhemos por nossa própria reconciliação pessoal, sempre guiados pela mão amorosa de nossa Mãe.

Terminemos nossa oração cantando a SALVE RAINHA.

Em nome Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.



Via-Sacra - Com Maria, caminhamos para a Páscoa


Durante os dias da quaresma, um dos exercícios espirituais mais usados é a oração da Via-Sacra. Como o nome já diz, Via-Sacra é o caminho sagrado. Caminho que Nosso Senhor Jesus Cristo percorreu, perseverante no amor do Pai, acompanhado por sua Mãe, e que culminou na gloriosa ressurreição.

As estações da Via-Sacra representam as várias situações de nossa vida, mantendo sempre o alerta para o nosso destino eterno, pois, nossa vida é uma caminhada para Deus.

Desde o nascimento, até a hora que Deus nos chamar para a eternidade, nós vamos percorrendo os caminhos de nossa vida, junto com Nossa Senhora, seguindo os passos de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, rumo ao coração de Deus.

Jesus nos mostra o caminho da salvação e nos convida a segui-lo: "Quem quiser vir após mim, deixe de lado seus próprios interesses, tome a sua cruz, cada dia, e siga-me" (Mt 16,24).

O convite que nos é feito para deixar de lado nossos próprios interesses é para que possamos fazer da vontade de Deus a nossa vontade, deixando que o Espírito de Deus conduza a nossa vida, como conduziu a vida de Maria, de Jesus e de todos os seus discípulos, de ontem e de hoje.

Maria ouviu a Palavra de Deus, fez da vontade de Deus a sua vontade, caminhou com seu filho pelas estradas do mundo e agora está junto dele no céu, no eterno convívio da Santíssima Trindade.

A Via-Sacra também nos leva a contemplar a caminhada da humanidade pelos caminhos do sofrimento, da dor e, acima de tudo, da esperança. Tudo nos leva a contemplar a presença de Deus e de nossa mãe, nas diversas situações de nossa vida.

Como mãe carinhosa, Nossa Senhora não está apenas esperando por nós lá no céu; ela se faz companheira de caminhada, amparando os que estão fracos, socorrendo os necessitados, protegendo os que estão ameaçados, caminhando conosco, cada dia de nossa vida.

Quando rezamos a Via-Sacra, poderemos sentir a presença de Deus que nos conduz com o seu amor e a sua proteção. E renovados pela confiança que brota em nosso coração ao sentirmos a presença amorosa de Maria Santíssima, que caminha conosco para a Páscoa definitiva, poderemos retornar para o dia-a-dia de nossas vidas, com uma disposição maior para vivermos a fé e trabalharmos com mais alegria pela construção do Reino de Deus que já manifesta, entre nós, os seus sinais.

Pe. Vicente André de Oliveira, C.Ss.R.



Quaresma caminho para a Páscoa


A grande meta da quaresma é a Páscoa - festa central do cristianismo, ponto alto do ano litúrgico. Neste tempo assumimos percorrer com Jesus, o caminho da provação e da cruz e vamos recebendo a força e a alegria do seu Espírito para proclamarmos a vitória da vida, enquanto lutamos contra todas as forças de violência, de injustiça e morte que, dolorosamente persistem no mundo. Cada celebração, deve ser uma forte experiência desta caminhada pascal, para que possamos fazer de nossa vida uma páscoa contínua.


1. Caminhada catecumenal: A quaresma é, por excelência , um tempo batismal. A liturgia da Palavra da quaresma do Ano A (2002) constitui-se num valioso itinerário de fé e adesão crescente,consciente e livre, ao projeto de Jesus. Nos dois primeiros domingos, a liturgia apresenta Jesus como aquele que vence o mal, e por isso é glorificado por Deus no Tabor, antes mesmo de Ele enfrentar a"hora das trevas" e, nos outros domingos, as grandes "catequeses batismais"de João ( cap.4, 9 e 11).As primeiras leituras, com textos do AT narram fatos significativos da História da Salvação( pecado de Adão, vocação de Abraão, Moisés e a água da rocha, Davi e a visão dos ossos em Ezequiel) e formam um todo catequético em sintonia com os evangelhos. Com textos de grande valor teológico das cartas de Paulo, as segundas leituras também apresentam certa ligação com as primeiras leituras e os evangelhos.Nossa vida torna-se , então, uma oferta de louvor, um sacrifício espiritual que apresentamos continuamente ao Pai , em união com Jesus, o servo pobre e sofredor.E, assim, por ele, com ele e nele o Pai seja louvado e glorificado.

2. Caminhada de conversão: Mais do que uma simples preparação da Páscoa , a quaresma constitui-se um ensaio da vida nova no Espírito:
tempo de romper com todas as expressões de mal que existem em nós, sepultando o "homem velho";

tempo de abrir-nos à Vida sempre nova que brota da Cruz; tempo de nos tornar uma nova criatura, revestindo-nos de Jesus Cristo;

tempo de nos converter ao projeto de Deus, ouvindo e acolhendo sua Palavra, que nos propõe "buscar primeiro o Reino de Deus e a sua justiça"(Mt 6,33);

tempo de renovar e reavivar a opção de nossa fé feita em nosso batismo, no desejo de um novo recomeço no seguimento como discípulos do Senhor. Dedicando mais tempo e densidade à oração tanto pessoal quanto comunitária fortalecendo as razões de nossa esperança.

Tomando uma atitude contra o consumismo, assumimos o jejum do autodomínio sobre nossa alimentação, nossas palavras, nossos sentimentos.E, sobretudo, com a prática do jejum verdadeiro, ou seja, a prática da justiça e da misericórdia, base da verdadeira oração, retomamos o compromisso de "volta ao primeiro amor" (Ap 2,4), na relação de aliança com Deus.

3. Conversão para a fraternidade: Como passo fundamental na caminhada pascal, a dimensão comunitária da quaresma é assumida por nós pela 39 Campanha da Fraternidade:"por uma terra sem males": que sempre nos pede conversão e solidariedade em situações bem concretas de nossa realidade. " A solidariedade é para os povos o que a ternura é para as pessoas" ( D. Pedro Casaldáliga). Este ano, numa busca de coerência evangélica diante dos 500 anos de evangelização no Brasil , há pouco celebrados, a Igreja nos convida a colocar a fraternidade a serviço da vida e da dignidade dos povos indígenas de quem " nós podemos também aprender o sentido comunitário da vida, a valorização da terra como fonte de recursos e sobrevivência humana, o estilo de vida sóbria e solidária... É um convite a todos os cristãos para engajarem-se na esperançosa luta pela conquista e garantia dos direitos dos povos indígenas. É também uma oportunidade para compartilharmos valores,sabedoria, conhecimentos e formas de ver a realidade" (cf. Texto base CF/02).

4. Sugestões pastorais para as equipes de celebração:
Preparar o ambiente da celebração dentro de certa sobriedade: cor roxa para as vestes litúrgicas e a ornamentação da mesa da Palavra e do altar, sem flores e sem o canto do Glória e do Aleluia, o que não significa tristeza, mas um "concentrar de energias para o grande dia". O cartaz da CF/02, poderá ser ampliado e colocado em lugar de destaque, junto à cruz. Evitar pregá-lo na estante da Palavra ou no altar.

A cruz também ganha destaque e, seria bom, que ela fosse entronizada solenemente, incensada em cada celebração, ocupasse um lugar permanente e bem visível durante a quaresma e, a cada domingo enriquecida com símbolos ou ações simbólicas ligadas aos textos bíblicos ou ao tema da CF/02.

Durante a quaresma, o ato penitencial poderá receber também um destaque maior como anúncio da misericórdia de Deus e de apelo à conversão, ligado com a realidade da comunidade e a situação dos povos indígenas É bom fazê-lo diante da cruz e usar gestos, com: ajoelhar-se, inclinar-se ou o rito da aspersão, acompanhado de refrões ou cantos apropriados.Nas celebrações da Palavra, o ato penitencial, em alguns domingos, poderá ser feito após a homilia, como resposta à interpelação que a Palavra de Deus faz. Ritualizar bem a entrada da Bíblia, a proclamação das leituras, o canto do salmo e da aclamação ao evangelho.Há símbolos batismais importantes que os próprios textos Bíblicos sugerem em alguns domingos, como cruz, água,luz profissão de fé.....e que serão retomados com toda intensidade na Vigília Pascal.

O momento mais indicado pela Oração da Campanha da Fraternidade é nas preces dos fiéis, podendo ser intercalada com um refrão apropriado.

Toda esta vivência quaresmal só terá sentido como preparação da páscoa, com as celebrações do Tríduo Pascal e sobretudo da Vigília pascal, a "mãe de todas as vigílias", que por ser tão importante merece ser cuidadosamente preparada para que a páscoa do ano 2002, seja profundamente vivida pala comunidade, "como festa verdadeira e acontecimento inesquecível" !

"Celebremos a Páscoa, não com o velho fermento, nem com o fermento da malícia e da perversidade, mas com os pães sem fermento, isto é, na pureza e na verdade" ( 1 Cor 5,8).

Padre Gian Luigi Morgano