sexta-feira, 17 de maio de 2013

Paróquia Nossa Senhora Aparecida De Alfenas - Mg Com As Servas do Altar e As Coroinhas ( Ascenção do Senhor )




Primeira leitura (Atos dos Apóstolos 1,1-11) 
Leitura dos Atos dos Apóstolos:

1No meu primeiro livro, ó Teófilo, já tratei de tudo o que Jesus fez e ensinou, desde o começo, 2até o dia em que foi levado para o céu, depois de ter dado instruções, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que tinha escolhido. 3Foi a eles que Jesus se mostrou vivo, depois de sua paixão, com numerosas provas. Durante quarenta dias, apareceu-lhes falando do Reino de Deus.
4Durante uma refeição, deu-lhes esta ordem: “Não vos afasteis de Jerusalém, mas esperai a realização da promessa do Pai, da qual vós me ouvistes falar: 5‘João batizou com água; vós, porém, sereis batizados com o Espírito Santo, dentro de poucos dias’”.
6Então os que estavam reunidos perguntaram a Jesus: “Senhor, é agora que vais restaurar o Reino em Israel?”
7Jesus respondeu: “Não vos cabe saber os tempos e os momentos que o Pai determinou com a sua própria autoridade. 8Mas recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, e até os confins da terra”.
9Depois de dizer isso, Jesus foi levado ao céu, à vista deles. Uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não podiam mais vê-lo.
10Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram então dois homens vestidos de branco, 11que lhes disseram: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus, que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”.
- Palavra do Senhor. 
- Graças a Deus.



Salmo (Salmos 46) 

— Batei palmas,/ povos todos, o Senhor subiu ao toque da trombeta. 
— Batei palmas,/ povos todos,/ o Senhor subiu ao toque da trombeta. 


— Povos todos do universo, batei palmas,/ gritai a Deus aclamações de alegria!/ Porque sublime é o Senhor, o Deus Altíssimo,/ o soberano que domina toda a terra. 
— Por entre aclamações Deus se elevou,/ o Senhor subiu ao toque da trombeta./ Salmodiai ao nosso Deus ao som da harpa,/ salmodiai ao som da harpa ao nosso Rei!
— Porque Deus é o grande Rei de toda a terra,/ ao som da harpa acompanhai os seus louvores!/ Deus reina sobre todas as nações,/ está sentado no seu trono glorioso.

Segunda leitura (Efésios 1,17-23) 
Leitura da Carta de São Paulo aos Efésios: 

Irmãos: 17O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai, a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer.
18Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos,19e que imenso poder ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotente.
20Ele manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus, 21bem acima de toda a autoridade, poder, potência, soberania ou qualquer título que se possa nomear, não somente neste mundo, mas ainda no mundo futuro.
22Sim, ele pôs tudo sob seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja,23que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal.
- Palavra do Senhor. 
- Graças a Deus.



Evangelho (Lucas 24,46-53)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor. 






Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 
46“Assim está escrito: O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia 47e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém.
48Vós sereis testemunhas de tudo isso. 49Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto”.
50Então Jesus levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os. 51Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu. 52Eles o adoraram.
Em seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria. 53E estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus.


Comentário Do Evangelho

“Então, Jesus levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu. Eles o adoraram” (Lc 24,50-52a).

Enquanto o Senhor subia ao céu, à vista de uma multidão de anjos e santos, serafins, querubins e tronos, todos permaneceram em constante adoração ao Senhor.

É assim que a Igreja do Senhor vive até hoje, porque Ele se foi, mas permanece com Sua Igreja até o fim dos tempos. Conforme Jesus mesmo prometeu: “Eis que estarei convosco até o fim dos tempos”. E, porque o Senhor permanece conosco, nós nos reunimos para adorá-Lo; reunimo-nos nas Igrejas, nos templos, em todos os lugares, pois onde dois ou três se reúnem, o Senhor está presente no meio deles.

O que nós queremos é reconhecer a presença de Jesus no meio de nós, no meio da Sua Igreja, no meio do Seu povo. Uma vez que reconhecemos Jesus presente no meio de nós, queremos também adorá-Lo em espírito e verdade, queremos que o nosso coração esteja n’Ele, porque a Ele damos todo louvor, toda honra, toda glória e adoração.

Essa é a vontade do Pai, esse é o desígnio, porque em Jesus está a nossa salvação; do alto do céus o Senhor nos abençoa, permanece no meio de nós abençoando-nos, protegendo-nos e livrando-nos de todo o mal.

Hoje, a Igreja celebra o Dia das Comunicações e o nosso dever é anunciar a Boa Nova, anunciar o Evangelho a todas os cantos da terra, onde quer que a Palavra de Deus chegue, que o nome de Jesus seja exaltado, glorificado acima de todo e qualquer nome. Unimo-nos ao coro dos serafins, querubins e tronos, das dominações e potestades. Adoremos, glorifiquemos e exaltemos o Senhor Nosso Deus!

Padre Roger Araújo – Comunidade Canção Nova


Ascensão Do Senhor Ao Céu


Jesus Nos Prepara Um Lugar Na Eternidade

a festa da Ascensão do Senhor, sabendo que Jesus voltou ao Pai, como havia dito, “para preparar-vos um lugar”. Nisso podemos ler a orientação da nossa vida: movemo-nos nesta terra, mas sabemos encaminhados para Deus. Ao final está Ele a nos esperar.
Quando o primeiro astronauta Yuri Gagarin em 1961 realizou o primeiro vôo espacial, retornando à terra fez declaração surpreendente; “Fui até o céu, mas Deus não encontrei”. Ao invés, nós hoje, em todas as igrejas da cristandade, celebramos a festa da Ascensão ao céu do Senhor Jesus. 

Na recitação do credo ao menos em cada domingo dizemos: “Creio em um só Senhor, Jesus Cristo que foi crucificado, ressuscitou dos mortos, e subiu ao céu, onde está sentado à direita do Pai”. 


Exprimimos assim nossa fé quanto aos últimos acontecimentos terrenos do Filho de Deus entre os homens. Uma fé que se apoia sobre o testemunho dos apóstolos, da Igreja das origens, dos Evangelhos. 

Os evangelistas narram o fato de maneiras bem diversas. Mateus nos conta o fato, o dá como conhecido e bem sabido por todos os cristãos. Marcos diz: “O Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, subiu ao céu e está sentado à direita de Deus”. Lucas ao invés explica que Jesus “foi elevado ao alto sob seus olhos, e uma nuvem o cobriu a seus olhos”. 

Essas expressões podem pôr alguma dificuldade à sensibilidade moderna. Não somente a Yuri Gagarin que no espaço não encontrou Deus. Se fosse só por isso, outros astronautas voltaram dos voos espaciais com o estupor no semblante, entusiastas pelo que tinham visto. Tinham encontrado no voo espacial sinais da presença misteriosa de Deus. Já o salmista exclamara: “Os céus narram as maravilhas de Deus”. 

Conta-se que um ateu falando em confidências com amigos, acreditou ter encontrado a prova de seu ateísmo: “Se Deus existe, por que não escreve o seu nome bem grande no céu, de modo que todos possam ler?” Parecia um pedido sensato. Houve certo embaraço. Mas alguém, com certa impertinência, disse: “Desculpe-me, senhor. Em que língua Deus deveria escrever o seu nome no céu?” Na verdade, o céu azul ou com nuvens, nada tem a ver com o céu da fé, com o céu de Deus. Com a ascensão ao céu, Jesus não entra num lugar, mas em uma dimensão nova, onde não têm mais sentido nossas expressões sobre, sob, diante, atrás. Ir ao céu, significa ir a Deus. 

Sabemos que Jesus, Verbo encarnado, tendo voltado ao Pai, lá prepara um lugar também para nós. E mesmo se tudo permanece misterioso, nós cremos em Jesus que nos fala, e cremos na Igreja que nos anuncia Cristo subido ao céu. E nos ensina a esperar igual destino na eternidade. 

Hoje se olha pouco para o céu. O céu de Deus. O céu que é Deus mesmo. Tem-se a impressão que uma das três virtudes teologais: fé, esperança e caridade estejam em crise. Não é tanto crise de fé. Existe muita gente que crê. Também não é tanto crise de caridade, de gente que faz o bem e tem cuidado com os outros. Parece ao invés que entrou em crise a virtude teologal da esperança. 

O evangelho de Marcos 16, 15-20 nos descreve os apóstolos olhando para o alto, o Senhor que subia ao céu. Nós de tal modo tomados por tantas coisas a fazer aqui em baixo não encontramos mais tempo para olhar o Senhor lá em cima. 

Esquecemo-nos de nossa destinação última, a nossa estação final de chegada. A figura dos apóstolos olhando para o alto deveria fazer-nos recordar que tudo não termina aqui em baixo mas somente começa, a realização e a plenitude da vida nos serão dadas depois. A virtude da esperança nos empurra a caminhar na direção daquele lugar que Jesus nos prepara. 

Devemos caminhar até o fim, como a criança que começa a caminhar amparada pela mãe e depois adquire confiança. É a história dos apóstolos, amparados por Jesus. No dia da Ascensão o Senhor os deixa andar sozinhos, e são encaminhados para a sua esperança. E depois deles, o pequeno rebanho, a Igreja que nascia. Quanto caminho percorreu. 

Somos cristãos, descendentes dos primeiros discípulos, olhamos o Senhor, na medida em que vivemos a esperança, anunciando o Senhor, passando por este mundo fazendo o bem como o Senhor. Rezamos na Missa: “Corações ao alto”. Os nossos corações estão voltados para o Senhor. 


Jesus foi arrebatado ao céu


os levou para Betânia e, levantando as mãos, os abençoou. Enquanto os abençoava, separou-se deles e foi arrebatado ao céu. Depois de o terem adorado, voltaram para Jerusalém com grande júbilo. E permaneciam no templo, louvando e bendizendo a Deus." Lc 24, 50-53

A festa da Ascensão do Senhor sugere-nos também outra realidade: esse Cristo que nos anima a empreender esta tarefa no mundo espera-nos no céu. Por outras palavras: a vida na terra, que nós amamos, não é a realidade definitiva; pois não temos aqui cidade permanente, mas andamos em busca da futura (Heb 13, 14) cidade imutável.


Cuidemos, porém, de não interpretar a palavra de Deus dentro dos limites de horizontes estreitos. O Senhor não nos incita a ser infelizes enquanto caminhamos, esperando a consolação apenas no mais além. Deus nos quer felizes também aqui, se bem que anelando pelo cumprimento definitivo dessa outra felicidade, que só Ele pode consumar plenamente.


Nesta terra, a contemplação das realidades sobrenaturais, a ação da graça em nossas almas, o amor ao próximo como fruto saboroso do amor a Deu, representam já uma antecipação do céu, uma invocação destinada a crescer de dia para dia. Nós, os cristãos, não suportamos uma vida dupla: mantemos uma unidade de vida, simples e forte, em que se fundamentam e se compenetram todas as nossas ações.


Cristo espera-nos. Vivemos já como cidadãos do céu (Fl 3, 20), sendo plenamente cidadãos da terra, no meio das dificuldades, das injustiças, das incompreensões, mas também no meio da alegria e da serenidade que nos dá saber-nos filhos amados de Deus, e vermos como aumenta em número e em santidade este exército cristão de paz, este povo de corredenção. Sejamos almas contemplativas, absorvidas num diálogo constante com Deus, procurando a intimidade com o Senhor a toda hora: desde o primeiro pensamento do dia ate o último da noite; pondo continuamente o nosso coração em Jesus Cristo, Nosso Senhor; achegando-nos a Ele por Nossa Mãe, Santa Maria, e por Ele, ao Pai e ao Espírito Santo.


E, se apesar de tudo, a subida de Jesus aos céus nos deixar na alma um travo de tristeza, acudamos à sua Mãe, como fizeram os Apóstolos: Tornaram então a Jerusalém... e oravam unanimemente... Com Maria, a Mãe de Jesus (At 1, 12-14).


É Cristo que passa, 126


Mestre ensina agora os seus discípulos: abriu-lhes a inteligência, para que compreendam as Escrituras, e toma-os por testemunhas da sua vida e dos seus milagres, da sua paixão e morte, e da glória da sua ressurreição (Lc 24, 45.48). Depois, leva-os a caminho de Betânia, ergue as mãos e abençoa-os. – E, entretanto, vai-se afastando deles e eleva-se no céu (Lc 24, 50), até que uma nuvem O ocultou (At 1, 9).


Jesus foi para o Pai. – Dois Anjos de brancas vestes se aproximam de nós e nos dizem: – Homens da Galileia, que fazeis olhando para o céu? (At 1, 11).


Pedro e os restantes voltam para Jerusalém – cum gaudio magno – com grande alegria (Lc 24, 52). – É justo que a Santa Humanidade de Cristo receba a homenagem, a aclamação e a adoração de todas as hierarquias dos Anjos e de todas as legiões dos bem-aventurados da Glória. Mas tu e eu nos sentimos órfãos; estamos tristes, e vamos consolar-nos com Maria.


A Ascensão do Senhor aumenta nossa fé



Cristo, em sua humanidade santíssima, já chegou à glória, essa glória que, até o momento, é aurora para o resto da humanidade. Ainda não podemos experimentara-la, mas cremos firmemente nela. De fato, a esperança nesse reino induziu tantos homens, depois de Cristo, a entregar sua vida, sem temer a morte; homens que conformam uma constelação quase infinita de joias na história da Igreja: são os mártires. Mas não só os mártires; na realidade, todos estamos chamados a uma única santidade e todos devemos viver com os olhos de nosso coração voltados para o céu porque "passa a figura deste mundo" e logo seremos "recebidos na paz e na suma bem-aventurança, na pátria que brilhará com a glória do Senhor". (Gaudium et spes, 93). 
Assim como na solenidade de Páscoa a ressurreição do Senhor foi para nós causa de alegria, assim também agora sua ascensão ao céu nos é um novo motivo de alegria, ao lembrar e celebrar liturgicamente o dia em que a pequenez de nossa natureza foi elevada, em Cristo, acima de todos os exércitos celestiais, de todas as categorias de anjos, de toda a sublimidade das potestades, até compartilhar o trono de Deus Pai. Fomos estabelecidos e edificados por este modo de atuar divino, para que a graça de Deus se manifestasse mais admiravelmente, e assim, apesar de ter sido afastada da vista dos homens a presença visível do Senhor, pela qual se alimentava o respeito dele para com Ele, a fé se mantivesse firme, a esperança inabalável e o amor aceso. 

Nisto consiste, com efeito, a vigor dos espíritos verdadeiramente grandes, isto é o que realiza a luz da fé nas almas verdadeiramente fiéis: crer sem vacilar no que nossos olhos não veem, ter fixo o desejo no que não pode alcançar nosso olhar. Como poderia nascer esta piedade em nossos corações, ou como poderíamos ser justificados pela fé, se nossa salvação consistisse apenas no que nos é dado ver? 

Assim, todas as coisas referentes a nosso Redentor, que antes eram visíveis, passaram a serem ritos sacramentais; e, para que nossa fé fosse mais firme e valiosa, a visão foi substituída pela instrução, de modo que, em diante, nossos corações, iluminados pela luz celestial, devem apoiar-se nesta instrução. 

Esta fé, aumentada pela ascensão do Senhor e fortalecida com o dom do Espírito Santo, já não se abate pelas correntes, a prisão, o desterro, a fome, o fogo, as feras nem os refinados tormentos dos cruéis perseguidores. Homens e mulheres, crianças e frágeis donzelas lutaram em todo o mundo por esta fé, até derramar seu sangue. Esta fé afugenta os demônios, cura doenças, ressuscita os mortos. 

Por isso os próprios apóstolos, que, apesar dos milagres que haviam contemplado e dos ensinamentos que haviam recebido, se acovardaram diante das atrocidades de paixão do Senhor e se mostraram arredios em admitir sua ressurreição, receberam um progresso espiritual tão grande da ascensão do Senhor, que tudo o que antes era motivo de temor tornou-se motivo de gozo. É que seu espírito estava agora totalmente elevado pela contemplação da divindade, do que está sentado à direita do Pai; e ao não ver o corpo do Senhor podiam compreender com maior claridade que aquele não havia deixado o Pai, ao descer à terra, nem havia abandonado seus discípulos, ao subir aos céus. 

Então, amadíssimos irmãos, o Filho do homem mostrou-se, de um modo mais excelente e sagrado, como Filho de Deus, ao ser recebido na glória da majestade do Pai, e, ao afastar-se de nós por sua humanidade, começou a estar presente entre nós de um novo modo e inefável por sua divindade. 

Então nossa fé começou a adquirir um maior e progressivo conhecimento da igualdade do Filho com o Pai, e a não necessitar da presença palpável da substância corpórea de Cristo, segundo a qual é inferior ao Pai; pois, subsistindo a natureza do corpo glorificado de Cristo, a fé dos fiéis é chamada onde poderá tocar ao Filho único, igual ao Pai, não mais com a mão, mas mediante o conhecimento espiritual. 

Dos Sermões de São Leão Magno, Papa




A Ascensão do Senhor




Esta solenidade foi transferida para o 7º domingo após a Páscoa desde seu dia originário, a quinta-feira da 6º semana de Páscoa, quando se cumprem os quarenta dias depois da ressurreição, conforme o relato de São Lucas em seu Evangelho e nos Atos dos Apóstolos; mas continua conservando o simbolismo da quarentena: como o Povo de Deus esteve quarenta dias em seu Êxodo do deserto até chegar à terra prometida, assim Jesus cumpre seu Êxodo pascal em quarenta dias de aparições e ensinamentos até ir ao Pai. A Ascensão é um momento mais do único mistério pascal da morte e ressurreição de Jesus Cristo, e expressa sobretudo a dimensão de exaltação e glorificação da natureza humana de Jesus como contraponto à humilhação padecida na paixão, morte e sepultamento.

Ao contemplar a ascensão de seu Senhor à glória do Pai, os discípulos ficaram assombrados, porque não entendiam as Escrituras antes do dom do Espírito, e olhavam para o alto. Aparecem dois homens vestidos de branco, é uma teofania, a mesma dos dois homens que Lucas descreve no sepulcro (24,4). Neles a Igreja Mãe judaico-cristã via acertadamente a forma simbólica da divina presença do Pai, que são Cristo e o Espírito. 


As palavras dos dois homens são fundamentais: Galileus, o que fazeis aí plantados olhando para o céu? O próprio Jesus que vos deixou para subir ao céu voltará como vistes marchar (Atos 1,11). Em um excesso de amor semelhante ao que o levou ao sacrifício, o Senhor voltará para tomar os seus e para estar com eles para sempre; e se mostrará como imagem perfeita de Deus, como ícone transformante por obra do Espírito, para nos tornar semelhantes a ele, para contemplá-lo tal como ele é (1 João 3,1-12). Contemplando na liturgia o ícone do Senhor – sobretudo na Eucaristia - intuomos o rosto de Deus tal como é e como o veremos eternamente. E o invocamos para que venha agora e sempre.


No relato deste mistério segundo o Evangelho de São Mateus (28,19-20), o Senho envia os discípulos a proclamar e realizar a salvação, segundo o triplo mistério da Igreja: pastoral, litúrgico e ministerial: Ide e fezei discípulos de todos os povos (pelo anúncio profético e o governo pastoral, formando e desenvolvendo a vida da Igreja), batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo (aplicando-lhes a salvação, introduzindo sacramentalmente na Igreja); e ensinando-os a guardar tudo o que vos mandei (mediante o magistério apostólico e a vida na caridade, o grande mandamento). 


O Plano de Deus está sendo cumprido, e a salvação, anunciada primeira a Israel, é proclamada a todos os povos. Nesta obra de conversão universal, por longa e laboriosa que possa ser o Ressuscitado estará vivo e operante em meio dos seus: E sabei que eu estou convosco todos os dias até o final dos tempos.



O mistério






A leitura apostólica que a Igreja propõe interpreta perfeitamente o acontecimento da Ascensão do Senhor, adentrando-nos no mistério do ressuscitado no santuário celeste. Agora podemos dizer com o canto do Santo que os céus e a terra estão cheios da glória de Deus (Em Isaías 6,3 só se nomeava a terra). Agora, com a ascensão da humanidade do Filho de Deus, comemorada no mistério litúrgico, sobre a qual repousa a glória do Pai, adorada pelos anjos, também nós somos unidos pela graça a este eterno louvor, no céu e na terra. Estamos no penúltimo momento do mistério pascal, antes da doação do Espírito Santo ao se completarem os cinqüenta dias, o Pentecostes.



A vida cristã




As orações desta solenidade pedem que permaneçamos fiéis à dupla condição da vida cristã, orientada simultaneamente às realidades temporais e às eternas. Esta é a vida na Igreja, comprometida na ação e constante na contemplação. 


Porque Cristo, levantado no alto sobre a terra, atraiu para si todos os homens; ressuscitando dentre os mortos envio seu Espírito vivificador sobre seus discípulos e por ele constituiu seu Corpo que é a Igreja, como sacramento universal de salvação; estando sentado à direito do Pai, sem cessar atua no mundo para conduzir os homens à sua Igreja e por Ela uni-los assim mais estreitamente e, alimentando-os com seu próprio Corpo e Sangue, torná-los partícipes de sua vida gloriosa.


Instruídos pela fé sobre o sentido de nossa vida temporal, ao mesmo tempo, com a esperança dos bens futuros, realizamos a obra que o Padre nos confiou no mundo e lavramos nossa salvação (Vaticano II, Lumen gentium 48).

A Ascensão do Senhor na vida do cristão
Depois que o Senhor Jesus apareceu a seus discípulos foi elevado ao céu. Este acontecimento marca a transição entre a glória de Cristo ressuscitado e a de Cristo exaltado à direita do Pai. Marca também a possibilidade de que a humanidade entre no Reino de Deus como tantas vezes Jesus anunciou. Desta forma, a ascensão do Senhor se integra no Mistério da Encarnação, que é seu momento conclusivo.


Testemunhas de Cristo


A Ascensão de Cristo é também o ponto de partida para começar a serem testemunhas e anunciadores de Cristo exaltado que voltou ao Pai para sentar-se à sua direita. O Senhor glorificado continua presente no mundo por meio de sua ação nos que creem em sua Palavra e deixam que o Espírito atue interiormente neles. O mandato de Jesus é claro e vigente: "Ide a todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda a criatura". Por isso, a nova presença do Ressuscitado em sua Igreja faz com que seus seguidores constituam a comunidade de vida e de salvação.



A força do Evangelho






A Ascensão de Cristo ao céu não é o fim de sua presença entre os homens, mas o começo de uma nova forma de estar no mundo. Sua presença acompanha com sinais a missão evangelizadora de seus discípulos.


A comunidade pós-pascal necessitou de um tempo para reforça sua fé incipiente no Ressuscitado. A Ascensão é o fim de sua visibilidade terrena e o início de um novo tipo de presença entre nós.




Missão da Igreja





São Lucas, depois de escrever seu Evangelho, empreende também com a inspiração divina a tarefa de redigir algo do que ocorreu depois que Jesus ressuscitou e subiu aos céus. É a história do início da Igreja, os tempos fundacionais nos quais a mensagem cristã começa a ser proclamada como uma doutrina nova e surpreendente que deveria transformar o mundo inteiro. Assim nos refere que o Senhor, antes de subir ao trono de sua glória e enviar-lhes a força avassaladora do Espírito, aparece-lhe uma e outra vez durante quarenta dias, para fortalecê-los na fé e entender-lhes na caridades, para animá-los com a mais viva esperança. 

Toma tua Cruz 

Com a Ascensão, o mandato de Jesus cobra uma força singular; compreendendo o valor da Paixão e da Morte. A partir dessa nova perspectiva, a Cruz era a força e a sabedoria de Deus. A partir desse momento podia-se falar em perdão e conversão, sem duvidas do amor e do poder divino de Jesus. Foi possível a conversão, exortar os homens para que se reconciliassem com Deus, cheio de misericórdia. Com a Ascensão de Jesus Cristo o caminho está aberto, e os fiéis convidados a percorrê-lo com Ele. 

Oração 

Concedei-nos, Deus onipotente, exultar de alegria e dar-vos graças nesta liturgia de louvor, porque a ascensão de Jesus Cristo, vosso Filho, é nossa vitória, e onde nos Ele, que é nossa cabeça, nos precedeu, esperamos chegar também nós como membros de seu corpo. Por Jesus Cristo nosso Senhor, Amém. 

Leituras da Missa
Primeira leitura
Leitura do livro dos Atos 1, 1-11 

1. No meu primeiro livro, ó Teófilo, já tratei de tudo o que Jesus começou a fazer e ensinar, desde o princípio, 

2. até o dia em que foi levado para o céu. Antes disso, ele deu instruções aos apóstolos que escolhera movido pelo Espírito Santo. 


3. Foi aos apóstolos que Jesus, com numerosas provas, se mostrou vivo depois da sua paixão: durante quarenta dias apareceu a eles, e falou-lhes do Reino de Deus. 


4. Estando com os apóstolos numa refeição, Jesus deu-lhes esta ordem: "Não se afastem de Jerusalém. Esperem que se realize a promessa do Pai, da qual vocês ouviram falar: 


5. 'João batizou com água; vocês, porém, dentro de poucos dias, serão batizados com o Espírito Santo'." 
6. Então, os que estavam reunidos perguntaram a Jesus: "Senhor, é agora que vais restaurar o Reino para Israel?" 
7. Jesus respondeu: "Não cabe a vocês saber os tempos e as datas que o Pai reservou à sua própria autoridade. 8. Mas o Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão força para serem as minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os extremos da terra." 
9. Depois de dizer isso, Jesus foi levado ao céu à vista deles. E quando uma nuvem o cobriu, eles não puderam vê-lo mais. 
10. Os apóstolos continuavam a olhar para o céu, enquanto Jesus ia embora. Mas, de repente, dois homens vestidos de branco 
11. Apareceram a eles e disseram: "Homens da Galileia, por que vocês estão aí parados, olhando para o céu? Esse Jesus que foi tirado de vocês e levado para o céu, virá do mesmo modo com que vocês o viram partir para o céu." 

Salmo responsorial 
Sal 46, 2-3. 6-7. 8-9 (R.: 6) 
R. Deus ascende entre aclamações; o Senhor, ao som das trombetas. 


Deus é nosso refúgio e nossa força, defensor sempre alerta nos perigos. 
Por isso não tememos se a terra vacila, se as montanhas se abalam no seio do mar; 
Deus está em seu meio: ela é inabalável. Deus a socorre ao romper da manhã. Povos estrondam, reinos se abalam, mas ele ergue sua voz, e a terra estremece. 
Javé dos Exércitos está conosco, nossa fortaleza é o Deus de Jacó! 
Venham ver os atos de Javé, os assombros que ele fez na terra. 


Segunda leitura 
Leitura da carta do apóstolo São Paulo á Efésios 1, 17-23 

17. Que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, lhes dê um espírito de sabedoria que lhes revele Deus, e faça que vocês o conheçam profundamente. 

18. Que lhes ilumine os olhos da mente, para que compreendam a esperança para a qual ele os chamou; para que entendam como é rica e gloriosa a herança destinada ao seu povo; 


19. e compreendam o grandioso poder com que ele age em favor de nós que acreditamos, conforme a sua força poderosa e eficaz. 


20. Ele a manifestou em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita no céu, 


21. Muito acima de qualquer principado, autoridade, poder e soberania, e de qualquer outro nome que se possa nomear, não só no presente, mas também no futuro. 
22. De fato, Deus colocou tudo debaixo dos pés de Cristo e o colocou acima de todas as coisas, como Cabeça da Igreja, 


23. a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que plenifica tudo em todas as coisas. 


Evangelho 
Lucas 24, 46-53 

"Enquanto os abençoava, subia aos céus" 

46. E continuou: "Assim está escrito: 'O Messias sofrerá e ressuscitará dos mortos no terceiro dia, 

47. e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém'. 


48. E vocês são testemunhas disso. 


49. Agora eu lhes enviarei aquele que meu Pai prometeu. Por isso, fiquem esperando na cidade, até que vocês sejam revestidos da força do alto." 
50. Então Jesus levou os discípulos para fora da cidade, até Betânia. Aí, ergueu as mãos e os abençoou. 51. Enquanto os abençoava, afastou-se deles, e foi levado para o céu. 


52. Eles o adoraram, e depois voltaram para Jerusalém, com grande alegria. 


53. E estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus. 


Breve explicação 

A Celebração 

Celebramos a Ascensão do Senhor, é o domingo anterior à festa de Pentecostes, são solenidades muito importantes da Igreja, pois nos falam de nosso destino final: ir ao Pai como Jesus e da fundação e missão de nossa Igreja Católica. 

Usa-se a cor branca, tanto no altar como nas vestimentas do sacerdote. 

Significado da expressão 

Os evangelistas descrevem no final dos evangelhos e no princípio do livro dos Atos dos Apóstolos, que Jesus "foi elevado ao céu", por isso nós, cristãos, repetimos em nosso Credo: 

"Subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai". Esta afirmação é um modo para dizer que Jesus foi ao Pai, levando consigo sua natureza humana. A ideia de Jesus ao Pai constituiu nosso céu. 

Jesus, ao ir ao Pai, não entra em um lugar, mas em uma nova dimensão, onde não têm sentido nossas expressões: acima, abaixo, subir, descer… Ir ao céu significa, ir a Deus. No céu, iremos nos unir ao corpo de Cristo ressuscitado todos os que aceitamos sua salvação. 




Significado da festa na igreja 



Segundo a narração de São Lucas, a Igreja celebra a Ascensão do Senhor aos quarenta dias de sua ressurreição. Esta festa está dentro do tempo pascal que consta de cinquenta dias e conclui com a Vinda do Espírito Santo sobre a Igreja. (Cf. Lc 24, 49-53; At 1, 3-11; 2, 1-41) A festa da Ascensão não nos fala de um afastamento de Cristo, mas de sua glorificação no Pai. Seu corpo humano adquire a glória e as propriedades de Deus antes de se encarnar. Com a Ascensão, Cristo aproximou-se mais de nós, com a mesma proximidade de Deus. É também uma festa de esperança, pois com Cristo uma parte, a primícias de nossa humanidade, está com Deus. Com ele, todos nós subimos ao Pai na esperança e na promessa. Na Ascensão celebramos a subida de Cristo ao Pai e nossa futura ascensão com ele. Ao celebrar o mistério da Ascensão do Senhor, lembra que O CÉU É NOSSA META e que a vida terrena é o caminho para alcançá-la.


Significado das leituras


A primeira leitura (At 1,1-11) constitui a introdução geral ao livro dos Atos dos Apóstolos, que enlaça diretamente com o final do evangelho de Lucas (At 1,1; cf. Lc 24,45-53: "Já falei no meu primeiro livro querido Teófilo tudo o que Jesus fez e ensinou desde o princípio até o dia em que subiu ao céu..."). Desta forma Lucas segue o uso literário da época de introduzir o segundo volume de uma obra com uma introdução que resumia o livro anterior. Para Lucas, a atividade terrena de Jesus conclui não com o momento de sua morte, mas com sua ascensão ao céu, que inclui naturalmente a experiência pascal das aparições. Por isso de agora em diante serão os apóstolos, aqueles que viram o Senhor e foram instruídas por ele "sob a ação do Espírito Santo" (At 1,2), as testemunhas autorizadas da palavra de Jesus e de sua ressurreição. Com efeito, Lucas insiste no realismo das aparições e no ensinamento de Jesus Ressuscitado aos apóstolos antes de subir ao céu: "Depois de sua paixão, Jesus apresentou-se diante deles muitas vezes com muitas e evidentes provas de que estava vivo, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus" (At 1,3). Estes "quarenta dias" são um número simbólico que evoca um tempo perfeito e arquetípico. O tempo necessário para passar de uma etapa a outra na história da salvação e, portanto, o tempo das manifestações divinas importantes e decisivas. O número evoca os quarenta anos que Israel caminhou no deserto sendo provado e educado por Deus (Dt 8,2-6); os quarenta dias que passou Moisés no monte Sinai para receber a Lei de Deus (Ex 24,18); os quarenta dias de Jesus no deserto antes de iniciar sua missão (Lc 4,1-2). "Quarenta" indica o tempo da prova e do ensinamento necessário. Nos Atos, entretanto, insiste apenas na segunda dimensão. Na tradição dos rabinos o número "quarenta" também tinha, na linha da tradição bíblica, um valor simbólico para indicar um período de aprendizado completo e normativo. Lucas quer manifestar que os apóstolos receberam do Senhor ressuscitado aquela formação autorizada e completa que os prepara para continuar sua obra e serem testemunhas do reino de Deus na história. Jesus lhes recomenda não afastar-se de Jerusalém e esperar a promessa do Pai, o dom do Espírito Santo. Jerusalém, a cidade na qual Jesus concluiu seu caminho, torna-se o ponto de partida da missão da Igreja. Em Jerusalém os apóstolos receberão o dom escatológico do Espírito Santo e dali começará a ser testemunhas de Jesus até os confins da terra. Jerusalém é e permanecerá para sempre a mãe de todas as igrejas. A missão da comunidade cristã, com efeito, enraíza-se naquela mesma cidade santa, sede do Templo e centro de toda a terra santa, porque como anunciou Isaías: "de Sião sairá a Lei, de Jerusalém a Palavra do Senhor" (Is 2,3). Em Jerusalém os apóstolos serão "batizados no Espírito Santo", quer dizer, serão imersos na potência divina e vivificante do Espírito que os plenificará (At 2). 



O texto faz referência à mentalidade dos apóstolos, enraizada na esperança messiânica do Antigo Testamento, em relação à instauração do reino messiânico em favor do povo eleito: "Senhor, irás restabelecer agora o reino de Israel?" (v. 6). Esta expectativa não era necessariamente nacionalista ou política, mas refletia a estreita concepção do povo da primeira aliança que limitava a salvação a Israel. Ao mesmo tempo a pergunta evoca uma questão a igreja primitiva e que em nosso tempo volta a resultar da atualidade: 


"quando será reconstruído o Reino?". Jesus rejeita categoricamente todas as especulações apocalípticas sobre a data do fim do mundo. Esse momento definitivo do reino só o conhece o Pai que guia a história da salvação: "Não lhes cabe conhecer os tempos e momentos que o Pai estabeleceu com sua autoridade" (v. 7). Em um segundo momento Jesus lhes ensina que não há conexão temporal direta entre o dom do Espírito e a chegada do reino. A experiência do Espírito mais bem servirá para dar início ao tempo da igreja, à missão da comunidade cristã (At 1,8). 


Depois deste diálogo com Jesus, Lucas relata a ascensão do Senhor (vv. 9-11). Para compreender a narração de Lucas é preciso levar em conta que utiliza um conhecido esquema simbólico presente em tantas religiões e também na Bíblia, que coloca no "alto", no "céu", tudo aquilo que é melhor e que domina o âmbito "horizontal", de "baixo", de nosso mundo, no qual se coloca o mal e a morte. Por isso a Bíblia fala muitas vezes que Deus "desce" do céu (Gn 11,5; Es 19,11-13; Sl 144,5) para falar com o homem e volta a "subir" (Gn 17,22) depois de realizar sua obra. Portanto, a linguagem simbólica da ascensão não deve ser interpretada em base de esquemas espaciais, que representam somente a envoltura externa. É necessário ler a ascensão desde a óptica da páscoa e captar neste mitério a mensagem fundamental: Jesus foi introduzido eternamente no âmbito da trascendência e no mundo do divino. Lucas tentou fazer visível a afirmação de fé em relação à plenitude divina do Ressuscitado e seu senhorio absoluto no mundo. Entretanto, no texto o acento está posto principalmente na "despedida". Trata-se de uma "separação". O Senhor Jesus já não está presente no meio de nós de forma física; seu corpo glorificado está presente agora na história com a força vivificante de Deus. A "nuvem" que oculta Jesus da vista dos discípulos é precisamente o sinal desta nova forma de presença. Um sinal que ao mesmo tempo "esconde" e "revela" a transcendência de Deus. No Antigo Testamento a nuvem indica a proximidade de Yahveh: uma presença escondida e majestosa, mas certa e salvadora para seu povo (cf. Ex 13,21; 24,16.18; 33,9-11; 34,5; Ez 1,4; Sl 96/97,2; etc.). Os apóstolos aparecem "olhando atentamente" a Jesus até o último momento (v. 10). Este "olhar" não deve ser entendido em sentido material. Com esta indicação Lucas quer destacar que eles são testemunha de toa a história de Jesus, incluído o momento da plenitude do mistério pascal, quando Jesus é glorificado e introduzido no mundo de Deus. Assim como Eliseu que, olhando a Elias que era levado ao céu em um carro de fogo, foi digno de receber so dois terços de seu espírito (2 Re 2,9-12), também os apóstolos que "olham" a Jesus receberão o Espírito de Jesus. O Ressuscitado continuará estando presente nos apóstolos mediante o Espírito. 


O texto dos Atos, em síntese, convida superar uma fé passiva e muito ligada ao espetacular: "Por que ficaram olhando paro céu?" (At 1,10). Estas palavras são um chamado indireto a não perder o tempo quando há que ser testemunhas de Jesus e a não esperar do céu soluções milagrosas ou revelações especiais. A desaparição material de Jesus marca o início da missão e do compromisso da Igreja. A fé verdadeira se baseia, segundo as palavras de Jesus no v. 8, na força do Espírito, no testemunho cristão no mundo e na abertura universal da Igreja. A ascensão, mais que lembrança, é exigência e chamado à missão e compromisso. 


O evangelho (Lucas 24, 46-53 ) refere-se à aparição pascal na Galileia 


Do versículo 49: "E eis aqui que Eu vos envio a Promessa de meu Pai. Mas vós ficais na cidade até que do alto sejais revestidos de força" entende que essa "Promessa" do Pai é o Espírito Santo, segundo o próprio Lucas faz referência em At. 1, 4. Veja 3, 16; Mt. 3, 11; Mc. 1, 8; Jo 1, 26; 14, 26. 


No versículo 50: "E os levou par fora até Betânia e, levantando suas mãos, os abençoou. 51 Enquanto os abençoava, separou-se deles e foi elevado ao céu."... Esta bênção de despedida de Jesus não é senão um "até logo" (Jo 16, 16 ss. e nota), porque Ele mesmo disse que ia nos preparar um lugar na casa de seu Pai, e voltaria nos buscar para estar sempre juntos (Jo 14, 2 s.). São Lucas continua este relato da Ascensão nos Atos dos Apóstolos, para nos dizer que, segundo anunciaram então os anjos, Jesus voltará da mesma maneira que foi, isto é, na nuvens (At 1, 11 e nota). Então terminarão de se cumprir todos esses anúncios dos quais fala Jesus no v. 44, para cujo entendimento devemos pedir-lhe que nos abra a inteligência como fizeram aqui os apóstolos (v. 45).


No versículo 53: "E estavam constantemente no Templo, louvando e bendizendo a Deus" entende-se pela expressão "no Templo" que se trata da própria Jerusalém (cf. At. 3, 1) cujo culto continuou até sua destruição pelos romanos no ano 70, depois do anúncio feito por São Paulo a Israel em At. 28, 25 ss. Cf. Hb. 8, 4 e nota. 


*Notas da Bíblia Comentada J. Straubinger


NEXO ENTRE AS LEITURAS


O próprio Jesus que nos deixou para subir ao céu, voltará como o vistes ir-se. Esta afirmação dos Atos dos apóstolos nos oferece umas sínteses profundas da liturgia na solenidade da Ascensão. Jesus sobre ao céu com corpo glorificado. Deixa aos apóstolos uma missão clara e comprometedora: Ide e fazei discípulos a todos os povos. Trata-se de ir até os confins da terra para que ressoe o pregão de Deus. Trata-se de anunciar sem descanso qual é a altura, a largura e a profundidade do amor de Deus, que manifestou em Cristo Jesus. O apóstolo será, pois o homem do "amor maior". O homem consciente de que o Senhor, que hoje ascende entre aclamações, voltará sem falta e cheio de Glória! Assim, pois, trata-se em última instância de compreender qual é a esperança à qual fomos chamados, compreender qual é a herança que Deus prepara para os que o amam. Esta solenidade da Ascensão é, pois um momento magnífico para examinar nosso peregrinar na vida, considerar que o Senhor voltará para nos levar consigo e que, portanto, há que empreender com entusiasmo nossas tarefas cotidianas recuperando nelas o valor de eternidade.


Subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai
"O Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, subiu aos Céus e está sentado à destra de Deus" (Mc 16, 19); "no quadragésimo dia de sua ressurreição subiu aos Céus com a carne em que ressuscitou e com a alma". Ascendeu "por seu próprio poder", poder que tinha como Deus e também poder de sua alma glorificada sobre seu Corpo glorioso. "Aquele que tudo criou, subiu acima de tudo e por seu próprio poder".

"Estar sentado" é uma maneira de dizer que chegou ao repouso que merece como guerreiro vencedor. É a postura do Rei e do Juiz, cheio de poder e majestade.


A Ascensão de Cristo ao Céu, entre outras coisas, nos move a busca sempre as coisas essenciais, que são invisíveis aos olhos do corpo, e que são aquelas coisas que não passam e não morrem: "Aspirai as coisas do alto onde está Cristo... provai as coisas do alto, não as da terra", dizia o apóstolo São Paulo aos primeiros cristãos (Col 3, 1-2). A Ascensão do Senhor deve nos encher de inabalável esperança, já que nos assegurou: "Na casa do meu Pai há muitas moradas... Eu lhes prepararei um lugar... Voltarei novamente e vos levarei comigo, para que onde eu estou estejais também vós" (Jo 14, 2-3). Somos cidadãos do Céu! (Fl 3, 20). E como os apóstolos, que após a Ascensão ficaram "olhando para o céu", devemos ter "o olhar fixado nEle..." (At 1,10).

Á direita do Pai


"Sentou-se à direita da Majestade nas alturas" (Hb 1, 3), segundo São João Damasceno refere-se à "glória e honra da divindade", ou seja, significa que Cristo reina junto com o Pai e, além dissi, tem o poder judicial sobre vivos e mortos. O saber que o Senhor está junto do Padre deve nos fazer crescer, de maneira imensurável, nossa confiança nEle: "Tudo posso naquele que me conforta" (Fl 4,13), deve dizer um jovem junto com São Paulo e com ele também aquela outra expressão de confiança total: "Sei em quem me confiei!" (2 Tm 1,12).


Catecismo da Igreja Católica



A Ascensão do Senhor aumenta nossa fé

Quinta-feira VI de Páscoa




Cristo, em sua humanidade santíssima, já chegou à glória, essa glória que, até o momento, é aurora para o resto da humanidade. Ainda não podemos experimentara-la, mas cremos firmemente nela. De fato, a esperança nesse reino induziu tantos homens, depois de Cristo, a entregar sua vida, sem temer a morte; homens que conformam uma constelação quase infinita de joias na história da Igreja: são os mártires. Mas não só os mártires; na realidade, todo estou chamado a uma única santidade e todos deveram viver com os olhos de nosso coração voltados para o céu porque "passa a figura deste mundo" e logo seremos "recebidos na paz e na suma bem-aventurança, na pátria que brilhará com a glória do Senhor". (Gaudium et spes, 93).


Assim como na solenidade de Páscoa a ressurreição do Senhor foi para nós causa de alegria, assim também agora sua ascensão ao céu nos é um novo motivo de alegria, ao lembrar e celebrar liturgicamente o dia em que a pequenez de nossa natureza foi elevada, em Cristo, acima de todos os exércitos celestiais, de todas as categorias de anjos, de toda a sublimidade das potestades, até compartilhar o trono de Deus Pai. Fomos estabelecidos e edificados por este modo de atuar divino, para que a graça de Deus se manifestasse mais admiravelmente, e assim, apesar de ter sido afastada da vista dos homens a presença visível do Senhor, pela qual se alimentava o respeito dele para com Ele, a fé se mantivesse firme, a esperança inabalável e o amor aceso.


Nisto consiste, com efeito, a vigor dos espíritos verdadeiramente grandes, isto é o que realiza a luz da fé nas almas verdadeiramente fiéis: crer sem vacilar no que nossos olhos não veem, ter fixo o desejo no que não pode alcançar nosso olhar. Como poderia nascer esta piedade em nossos corações, ou como poderíamos ser justificados pela fé, se nossa salvação consistisse apenas no que nos é dado ver?


Assim, todas as coisas referentes a nosso Redentor, que antes eram visíveis, passaram a serem ritos sacramentais; e, para que nossa fé fosse mais firme e valiosa, a visão foi substituída pela instrução, de modo que, em diante, nossos corações, iluminados pela luz celestial, devem apoiar-se nesta instrução.


Esta fé, aumentada pela ascensão do Senhor e fortalecida com o dom do Espírito Santo, já não se abate pelas correntes, a prisão, o desterro, a fome, o fogo, as feras nem os refinados tormentos dos cruéis perseguidores. Homens e mulheres, crianças e frágeis donzelas lutaram em todo o mundo por esta fé, até derramar seu sangue. Esta fé afugenta os demônios, cura doenças, ressuscita os mortos.


Por isso os próprios apóstolos, que, apesar dos milagres que haviam contemplado e dos ensinamentos que haviam recebido, se acovardaram diante das atrocidades de paixão do Senhor e se mostraram arredios em admitir sua ressurreição, receberam um progresso espiritual tão grande da ascensão do Senhor, que tudo o que antes era motivo de temor tornou-se motivo de gozo. É que seu espírito estava agora totalmente elevado pela contemplação da divindade, do que está sentado à direita do Pai; e ao não ver o corpo do Senhor podiam compreender com maior claridade que aquele não havia deixado o Pai, ao descer à terra, nem havia abandonado seus discípulos, ao subir aos céus.


Então, amadíssimos irmãos, o Filho do homem mostrou-se, de um modo mais excelente e sagrado, como Filho de Deus, ao ser recebido na glória da majestade do Pai, e, ao afastar-se de nós por sua humanidade, começou a estar presente entre nós de um novo modo e inefável por sua divindade.


Então nossa fé começou a adquirir um maior e progressivo conhecimento da igualdade do Filho com o Pai, e a não necessitar da presença palpável da substância corpórea de Cristo, segundo a qual é inferior ao Pai; pois, subsistindo a natureza do corpo glorificado de Cristo, a fé dos fiéis é chamada onde poderá tocar ao Filho único, igual ao Pai, não mais com a mão, mas mediante o conhecimento espiritual.


Dos Sermões de São Leão Magno, Papa



Ninguém, subiu ao céu senão aquele que veio do céu


"Hoje nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao céu; suba também como Ele nosso coração. Ouçamos o que nos diz o Apóstolo: Se fostes ressuscitados com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à destra de Deus. Ponde vosso coração nas coisas do céu, não nas da terra. Pois, do mesmo modo que ele subiu sem por isso afastar-se de nós, assim também nós estamos já com ele, embora ainda não se tenha realizado em nosso corpo o que nos foi prometido.


Ele foi elevado ao mais alto dos céus; entretanto, continua sofrendo na terra através das fadigas que experimentam seus membros. Assim o testificou com aquela voz vinda do céu: Saulo, Saulo, por que me persegues? E também: Tive fome e me destes de comer. Por que não trabalhamos nós também aqui na terra, de maneira que, pela fé, a esperança e a caridade que nos unem a ele, descansemos já com ele nos céus? Ele está ali, mas continua estando conosco; nós, Estando aqui, estamos também com ele. Ele está conosco por sua divindade, por seu poder, por seu amor; nós, embora não possamos realizar isto como ele pela divindade pode pelo amor a ele.


Ele, quando desceu até nós, não deixou o céu; tampouco nos deixou, ao voltar ao céu. Ele mesmo assegura que não deixou o céu enquanto estava conosco, posto que afirme: Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu. Isto diz em virtude da unidade que existe entre ele, nossa cabeça, e nós, seu corpo. E ninguém, exceto ele, poderia dizer isso, já que nós estamos identificados com ele, em virtude de que ele, por nossa causa, fez-se Filho do homem, e nós, por ele, fomos feitos filhos de Deus.


Neste sentido diz o Apóstolo: Assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, a pesar de serem muitos, são um só corpo, assim também é Cristo, Não diz: "Assim é Cristo", mas: Assim também é Cristo. Portanto, Cristo é apenas um corpo formado por muitos membros. Desceu, pois, do céu, por sua misericórdia, mas já não subiu sozinho, que nós subimos também nele pela graça. Assim, pois, Cristo desceu sozinho, mas já não ascendeu ele sozinho; não é que queiramos confundir a divindade da cabeça com a do corpo, mas sim afirmamos que a unidade de todo o corpo pede que este não seja separado de sua cabeça. "


Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo 

(Sermão Mai 98, Sobre a Ascensão do Senhor, 1-2; PLS 2, 494-495)

Homilia do Papa João Paulo II em maio de 2001
24 de Maio de 2001

Senhores Cardeais

Veneráveis Irmãos no Episcopado

Caríssimos Irmãos e Irmãs


1. Encontramo-nos reunidos à volta do altar do Senhor para celebrar a sua Ascensão ao Céu. Escutámos as suas palavras: "Ides receber a força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós e serão minhas testemunhas... até aos [extremos] confins do mundo" (Act 1, 8). Desde há dois mil anos estas palavras do Senhor ressuscitado impelem a Igreja a "fazer-se-ao largo" na história, tornando-a contemporânea de todas as gerações e transformando-a no fermento de todas as culturas do mundo.


Voltamos a ouvi-las no dia de hoje, para acolher com renovado fervor o mandato "duc in altum! Faz-te ao largo!" que um dia Jesus dirigiu a Pedro: trata-se de um imperativo que desejei fazer ressoar em toda a Igreja através da Carta Apostólica Nova milênio ineunte e que, à luz desta solenidade litúrgica, adquire um significado ainda mais profundo. O altum, rumo ao qual a Igreja deve caminhar, não é apenas um compromisso missionário mais vigoroso, mas antes ainda um empenhamento contemplativo mais intenso. Também nós somos convidados, como os Apóstolos, testemunhas da Ascensão, a fixar o olhar no rosto de Cristo, arrebatado no esplendor da glória divina.


Sem dúvida, contemplar o céu não significa esquecer-se da terra. Se se apresentasse esta tentação, ser-nos-ia suficiente voltar a escutar os "dois homens revestidos de branco" da página evangélica do dia de hoje: "Por que motivo está a olhar para o céu?". A contemplação cristã não nos subtrai ao compromisso histórico. O "céu" da Ascensão de Jesus não quer dizer distância, mas o ocultar e a vigilância de uma presença que nunca nos abandona, até que Ele venha na glória. Entretanto, chegou a hora exigente do testemunho para que, em nome de Cristo, "sejam anunciadas a todas as gentes a conversão e a remissão dos pecados" (cf. Lc 24, 47).


2. É precisamente para reavivar esta consciência, que desejei convocar o Consistório extraordinário, que hoje chega ao seu termo. Os Senhores Cardeais do mundo inteiro, que saúdo com afeto fraternal, reuniram-se nestes dias comigo, para enfrentar alguns dos temas mais relevantes da evangelização e do testemunho cristão no mundo contemporâneo, no início de um novo milénio. Para nós foi, antes de qualquer coisa, um momento de comunhão em que experimentámos um pouco daquela alegria que inundou a alma dos Apóstolos, depois que o Ressuscitado, abençoando-os, se despediu deles para subir aos céus. Com efeito, Lucas diz que, "depois de O terem adorado, voltaram para Jerusalém com grande alegria. E estavam continuamente no Templo, a bendizer a Deus" (24, 52-53).


A natureza missionária da Igreja mergulha as suas raízes neste ícone das origens. Traz em si mesma os seus traços. Volta a propor o seu espírito. Propõe-no de novo, a começar pela experiência da alegria, que o Senhor Jesus prometeu a quantos O amam: "Digo-vos isto para que a minha alegria esteja em vós e o vosso gozo seja completo" (Jo 15, 11). Se a nossa fé no Senhor ressuscitado está viva, a alma não pode deixar de estar repleta de alegria, e a missão configura-se como um "transbordar" de alegria, que nos leva a transmitir a todos a "boa notícia" da salvação, com uma coragem livre de temores e de complexos, mesmo que seja à custa do sacrifício da nossa própria vida.


A natureza missionária da Igreja, que parte de Cristo, encontra apoio na colegialidade episcopal e é encorajada pelo Sucessor de Pedro, cujo ministério visa a promoção da comunhão na Igreja, garantindo a unidade de todos os fiéis em Cristo.


3. Foi precisamente esta experiência que fez de Paulo o "Apóstolo das Gentes", levando-o a percorrer uma boa parte do mundo então conhecido, sob o impulso de uma força interior, que o obrigava a falar de Cristo: "Vae mihi est si non evangeliza vero! Ai de mim, se não anunciar o Evangelho!" (1 Cor 9, 16). Também eu quis, na recente Peregrinação apostólica na Grécia, Síria e Malta, colocar-me no seguimento dos seus passos, quase completando, desta forma, a minha Peregrinação jubilar. No seu trajeto experimentei a alegria de compartilhar, com afetuosa admiração, alguns aspectos da vida dos nossos caríssimos irmãos católicos orientais e de ver abrirem-se novas perspectivas ecumênicas nas relações com os nossos não menos amados irmãos ortodoxos: com a ajuda de Deus, deram-se passos significativos rumo à almejada meta da plena comunhão.


Foi também significativo o encontro com os muçulmanos. Assim como na tão desejada peregrinação na Terra do Senhor, realizada durante o Grande Jubileu, tive a ocasião de salientar os especiais vínculos da nossa fé com a do povo hebraico, assim foi também muito intenso o momento de diálogo com os crentes do Islão. Efetivamente, o Concílio Vaticano II ensinou-nos que o anúncio de Cristo, único Salvador, não nos impede pelo contrário, sugere-nos pensamentos e gestos de paz em relação aos fiéis pertencentes a outras religies (cf. Nostra aetate, 2).


4. Sereis minhas testemunhas! Estas palavras de Jesus aos Apóstolos, proferidas antes da Ascensão, determinam muito bem o sentido da evangelização de sempre, mas parecem atuais de maneira particular no nosso tempo. A época que vivemos é um tempo em que superabunda a palavra, multiplicada de maneira inverosímil pelos meios de comunicação social, que têm muito poder sobre a opinião pública, tanto no bem como no mal. Mas a comunicação de que temos necessidade é a palavra rica de sabedoria e de santidade. Por isso, na Carta Nova millennio ingente escrevi que "o horizonte para o qual deve tender todo o caminho pastoral é a santidade" (n. 30), cultivada na escuta da Palavra de Deus, na oração e na vida eucarística, especialmente por ocasião da celebração semanal do "Dies Domini". A mensagem de Cristo só pode penetrar no nosso mundo graças ao testemunho de cristãos verdadeiramente comprometidos a viver o Evangelho de forma radical.


Hoje, a Igreja está a enfrentar desafios enormes, que põem à prova a confiança e o entusiasmo dos anunciadores. E não se trata apenas de problemas "quantitativos", devidos ao facto de que os cristãos representam uma minoria, enquanto o processo de secularização continua a debilitar a tradição cristã inclusivamente em países de antiga evangelização. Problemas ainda mais graves derivam de uma transformação geral do horizonte cultural, dominado pelo primado das ciências experimentais, inspiradas nos critérios da epistemologia científica. Mesmo quando se demonstra sensível à dimensão religiosa e até parece redescobri-la, o mundo moderno aceita no máximo a imagem de Deus criador, enquanto acha difícil aceitar como aconteceu com os ouvintes de Paulo, no areópago de Atenas (cf. Act 17, 32-34) o "scandalum crucis" (cf. 1 Cor 23), o "escândalo" de um Deus que, por amor, entra na nossa história e se faz homem, morrendo e ressuscitando por nós. É fácil intuir o desafio que isto comporta para as escolas e as Universidades católicas, assim como para os centros de formação filosófica e teológica dos candidatos ao sacerdócio, pois todos eles constituem lugares em que é necessário oferecer uma preparação cultural que esteja à altura do momento cultural contemporâneo.


Ulteriores problemas derivam do fenómeno da globalização que, se por um lado oferece a vantagem de aproximar os povos e as culturas, tornando mais acessíveis a cada um inúmeras mensagens, por outro não facilita todavia o discernimento e uma síntese amadurecida, favorecendo ao contrário uma atitude relativista que torna mais difícil aceitar Cristo como "caminho, verdade e vida" (Jo 14, 6) para cada homem.


E que dizer, então, daquilo que vai surgindo no âmbito das interrogações morais? Mais do que nunca, sobretudo a nível dos grandes temas da bioética, mas também nas teses da justiça social, da instituição familiar e da vida conjugal, a humanidade é interpelada por problemas tão formidáveis, que colocam em questão o seu próprio destino.


O Consistório refletiu amplamente sobre alguns destes problemas, desenvolvendo análises aprofundadas e propondo soluções ponderadas. Várias questões serão retomadas no próximo Sínodo dos Bispos, que se demonstrou como válido e eficaz instrumento da colegialidade episcopal ao serviço das Igrejas particulares. Veneráveis Irmãos Cardeais, estou-vos grato pelas preciosas contribuições que agora ofereceis: delas desejo tirar oportunas indicações de ação, a fim de que a ação pastoral e evangelizadora de toda a Igreja cresça na tensão missionária, com plena consciência dos desafios contemporâneos.


5. Hoje, o mistério da Ascensão abre-nos de par em par o horizonte ideal em que este compromisso deve realizar-se. Trata-se, em primeiro lugar, do horizonte da vitória de Cristo sobre a morte e o pecado. Ele sobe ao céu como Rei de amor e de paz, fonte de salvação para toda a humanidade. Sobe para "se apresentar agora diante de Deus por nós", como escutámos da Carta aos Hebreus (9, 24). O convite que nos provém da palavra de Deus é uma exortação à confiança: "O que fez a promessa é fiel" (Hb 10, 23).


Além disso, recebemos a força do Espírito, que Cristo derramou de maneira ilimitada. O Espírito é o segredo da Igreja de hoje, como o foi para a Igreja dos primórdios. Seríamos condenados à falência, se não continuasse a ser eficaz em nós a promessa que Jesus fez aos primeiros Apóstolos: "Eu vou mandar sobre vós Aquele que meu Pai prometeu. Entretanto, permanecei na cidade, até serdes revestidos com a força lá do Alto" (Lc 24, 49). O Espírito, Cristo, o Pai: toda a Trindade está comprometida conosco!


Sim, meus queridos Irmãos e Irmãs! Não percorreremos sozinho o caminho que nos espera. Acompanham-nos os sacerdotes, os religiosos, os leigos, jovens e adultos, seriamente comprometidos para dar à Igreja, em conformidade com o exemplo de Jesus, um rosto de pobreza e de misericórdia especialmente aos necessitados e marginalizados, um rosto que resplandeça pelo testemunho da comunhão na verdade e no amor. Não estaremos sozinhos, sobretudo porque conosco estará a Santíssima Trindade. Os compromissos que confiei como mandato a toda a Igreja na Carta Nova milênio ineunte, os problemas sobre os quais o Consistório refletiu, não os enfrentaremos com forças unicamente humanas, mas com o poder que vem "lá do Alto". Esta é a certeza que encontra alimento contínuo na contemplação de Cristo, que subiu ao céu. Contemplando-O, acolhemos de bom grado a admoestação da Carta aos Hebreus, a conservarmo-nos "firmemente apegados à nossa esperança, porque O que fez a promessa é fiel" (10, 23).


O nosso compromisso renovado faz-se um cântico de louvor, enquanto com as palavras do Salmo indicamos para todos os povos do mundo Cristo que ressuscitou e subiu ao céu: "Povos todos, batei palmas, aclamai ao Senhor com vozes de alegria... Ele é o rei da terra inteira" (Sl 46[47], 2.8).


Assim, com renovada confiança, "façamo-nos ao largo" em seu Nome!




Entenda Um Pouco O Processo De Escolha Do Papa




Dois Estilos Diferentes




Mensagens De Esperança